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9Nota da Hybrido
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9.0

O que pode ser mais solitário que a imensidão do espaço, do vácuo, escuro, gelado e infinito? Em Ad Astra, novo filme de James Gray, que dirigiu Z – A Cidade Perdida e os excelentes Os Donos da Noite e Era uma vez em Nova York, a solidão é personificada pelo astronauta Roy McBride, personagem de Brad Pitt.

Após sobreviver a um incidente causado por uma série de descargas elétricas que estão acontecendo por todo o planeta, Roy é informado que os fenômenos podem ser causados pelo Projeto Lima, expedição criada para explorar os limites do Sistema Solar, que perdeu contato com a Terra há anos e era comandada por seu pai (Tommy Lee Jones).

A partir dessa premissa, Gray cria uma viagem espacial de encher os olhos. Ambientado em um futuro próximo, a humanidade já explora a Lua com bases militares, voos comerciais e até shoppings. O satélite é a escala da viagem de Roy para tentar uma comunicação com seu pai.

Assim como em toda a história da humanidade, territórios novos apresentam perigos e disputas, o que é mostrado em uma das melhores cenas do longa, com uma fantástica perseguição, no melhor estilo Mad Max. É muito interessante ver como a cena é trabalhada utilizando a física da Lua e sua baixa gravidade, as crateras e sombras causada pela geografia.

James Gray nunca foi um diretor de cenas de ação e isso fica claro aqui. A cena da Lua é a sua maior incursão nesse sentido. Há ao menos três outros momentos (Mayday, Marte e o final) em que o diretor poderia ter sucumbido ao espetáculo, mas prefere tratar de forma intimista, reservada ao espaço preenchido por Roy, seus temores e ao caminho que ele trilha na sua busca.

O que vemos em Ad Astra é a jornada de Roy através da sua solidão. Em todo a trama, não enxergamos o astronauta tendo conexões com outros personagem e sempre que o vemos, ele está afastado, seja através de um vidro, de dentro de sua roupa espacial e do capacete com filtro espelhado ou em cantos opostos da sala. Seu foco é encontrar a verdade sobre o pai. O herói que deixou de lado a família para seguir carreira, sombra que Roy repete até então. É nessa tentativa de se conectar com o pai, que vemos a primeira reação genuinamente emocional do personagem.

Toda essa solidão está perfeitamente representada em Brad Pitt. E que ano para o ator, com duas de suas melhores atuações na carreira. Se em Era uma vez em Hollywood, Pitt estampa o galã carismático da Califórnia, em Ad Astra, ele é o herói de guerra cansado, que deixa transparecer as olheiras e rugas e que questiona ter que, mais uma vez, se lançar no espaço.

Nessa sua trajetória, Roy vai enfrentar mais do que semanas de isolamento na viagem que o levará ao Projeto Lima. Ele vai encara seus próprios abandonos e decisões. A busca pela paternidade é apenas um dos passos para que Roy, enfim, encontre conforto fora do seu traje espacial. É uma jornada pela solidão, seja do espaço, seja da humanidade, mas que encontra no vazio e na introspecção, um estado de paz, um consolo.

Ad Astra é, no fim, a nossa própria jornada para encontrar a solitude.