Entrando na onda de listas de fim de ano, elaborei uma lista dos 50 melhores filmes produzidos entre 2010 e 2019 no cinema mundial. Obviamente teremos justiças, injustiças, ausências (não parece, mas não dá para ver tudo o que passa por aí – e por isso valem os comentários com dicas de filmes que poderiam entrar!).

Junto com cada filme da lista, coloco um parágrafo que resume o filme para mim, por si só e pela sua importância para estar nesta lista. Eis os filmes, da 50ª à 31ª posições:

  • 50º lugar: “O SOM AO REDOR” (2012), de Kléber Mendonça Filho

Um filme que conta o impacto do início da gentrificação de Recife no microcosmo de uma rua num bairro de classe média da cidade, onde a premissa de paz traz a significação da violência silenciosa construída a partir dali. Um filme de impacto e significância para revisão sobre o Brasil de hoje.

 

  • 49º lugar: “DJANGO LIVRE” (2012), de Quentin Tarantino

Parte dos grandes filmes de vingança ficcional de Tarantino, “Django Livre” traz um recorte do período pré-Guerra Civil, onde um escravo libertado por um matador de recompensas alemão busca resgatar sua amada esposa em um latifúndio escravagista, com a estética característica da icônica filmografia do diretor.

 

  • 48º lugar: “MÃE!” (2017), de Darren Aronofsky

A visão de Aronofsky beira ao experimental na sua metáfora particular sobre a criação do mundo através de um casal, onde a mulher vive uma fase atormentada em meio à crise criativa de seu marido escritor numa casa de campo afastada, com a narrativa impulsionada por uma avalanche de acontecimentos peculiares numa atmosfera de horror criada pelo seu diretor.

 

  • 47º lugar: “O CAVALO DE TURIM” (2011), de Béla Tarr

Um filme denso baseado num incidente envolvendo um cavalo que foi salvo de tortura por Nietzsche, a história conta o tormento de um fazendeiro a ter que encarar o fim da vida de seu fiel cavalo, numa estética crua e realista que transforma um conto simples num retrato filosófico sobre vida e morte.

 

  • 46º lugar: “MEIA-NOITE EM PARIS” (2011), de Woody Allen

Uma história vivida em Paris numa atmosfera de sonho envolvendo o amor e a literatura, através da viagem de um escritor em busca de seu caminho em meios às suas referências no meio, com suas qualidades e defeitos, com o peculiar bom humor dos diálogos de Woody Allen.

 

  • 45º lugar: “AQUARIUS” (2016), de Kléber Mendonça Filho

Kléber volta ao tema da gentrificação de sua cidade numa abordagem mais madura e calcada no tradicional melodrama, apoiado em sua fortíssima protagonista, que representa não só sua individualidade como toda uma antropologia através da sua luta em manter seu apartamento em confronto ao poder capitalista de uma construtora.

 

  • 44º lugar: “A INVENÇÃO DE HUGO CABRET” (2011), de Martin Scorsese

Scorsese homenageia a invenção do cinema através de uma fábula, pela aventura de um garoto em busca de respostas sobre o legado de seu pai através de um boneco, que o leva a algo ainda maior que transborda emoção a cada minuto de sua narrativa.

 

  • 43º lugar: “A SEPARAÇÃO” (2011), de Asghar Farhadi

A conjuntura de uma país representada através do fim de uma relação conjugal mediada pelo Estado iraniano, que com a força do impacto dos diálogos do diretor e roteirista Asghar Farhadi, nos faz navegar neste exótico contexto social enquanto ocidentais.

 

  • 42º lugar: “MELANCOLIA” (2011), de Lars Von Trier

Duas visões opostas frente à inevitabilidade melancólica do fim do mundo, através da quebra de convenções sociais ilustradas pela celebração de um casamento, conduzidas por um dos realizadores mais radicais no cinema atual, marcam a potência deste filme nos últimos anos.

 

  • 41º lugar: “REINO ANIMAL” (2010), de David Michôd

Um filme de máfia na Austrália, sob a liderança pouco convencional de uma matriarca, que conta algo a mais sobre uma família desfuncional que se torna no único refúgio para um jovem em busca de um rumo, contra todas as estatísticas possíveis de êxito em acolhimento.

 

  • 40º lugar: “AMOR” (2012), de Michael Haneke

O casamento sob a perspectiva da inevitabilidade crua da morte dolorosa de uma parte do casal, e como a outra lida com isso, e como seu amor se manifesta nesta dura conjuntura, sob o olhar frio e nada condescendente do cineasta austríaco, que explora cada minuto da excelente interpretação de seu casal protagonista.

 

  • 39º lugar: “SOB A PELE” (2013), de Jonathan Glazer

A análise das relações sentimentais através dos olhos de uma extraterrestre, onde se discute se a visão distante e utilitária da protagonista seria mais fria que a atual conjuntura dos conceitos de amor liquido que vivemos atualmente, num filme onde o gênero de ficção-científica nos permite refletir sobre temas atualíssimos.

 

  • 38º lugar: “ERA UMA VEZ….EM HOLLYWOOD” (2019), de Quentin Tarantino

Mais uma etapa do cinema de vingança do cineasta, aqui absorvendo um dos episódios mais tristes de Hollywood envolvendo a atriz Sharon Tate, em paralelo ao encerramento da chamada Era de Ouro na cidade, que perde terreno a cada filme para a etapa da Nova Hollywood que transformou o cinema norte-americano, tudo sob a ótica peculiar do cinéfilo Tarantino.

 

  • 37º lugar: “IDA” (2014), de Pawel Pawlikowski

Pawlikowski usa como poucos a fotografia em preto e branco na captação de sentimentos através da linguagem cinematográfica, aqui representada na angústia e dúvida que cerca a protagonista às vésperas de assumir seus votos enquanto freira, após ter conhecimento de informações de seu passado na Polônia ocupada pelo nazismo.

 

  • 36º lugar: “MANCHESTER À BEIRA MAR” (2016), de Kenneth Lonergan

Uma inteligente análise do óbito sob diversas perspectivas, seja com culpa, nostalgia ou acolhimento, através de um único protagonista, que possui enorme profundidade dramática para assimilar tudo sem muitas falas, apenas com gestos e olhares, como a mais triste das óperas.

 

  • 35º lugar: “MOONLIGHT: SOB A LUZ DO LUAR” (2016), de Barry Jenkins

Em três atos, a vida sob a percepção de um negro por três atos de sua vida, irregular no preenchimento de afetos e na construção de experiências, sob a ótica humana e calorosa da câmera de Barry Jenkins e no profundo roteiro adaptado de texto teatral.

 

  • 34º lugar: “FRUITVALE STATION: A ÚLTIMA PARADA” (2013), de Ryan Coogler

Excelente drama sobre a história real de um jovem pai negro num dia de ano novo, que acaba numa violenta ação de assédio policial numa estação de metrô em Nova York, retratando a injustiça social e racial dos Estados Unidos através das lentes realistas de Ryan Coogler, que anos depois ganharia o mundo com “Creed” e o fenômeno da Marvel “Pantera Negra”.

 

  • 33º lugar: “JÓIAS BRUTAS” (2019), dos irmãos Safdie

Ansiosa e alucinante corrida de um joalheiro afundado em dívidas seguindo o próprio rabo, com agiotas, credores e problemas familiares batendo à sua porta, fazendo da dúvida de um diagnóstico de saúde um mero detalhe no vulcão comandado e montado pela dupla de cineastas mais promissora dos Estados Unidos na próxima década.

 

  • 32º lugar: “DOIS DIAS, UMA NOITE” (2014), dos irmãos Dardenne

A dramática premissa de uma trabalhadora em frangalhos emocionais ter que convencer colegas de trabalho a abrir mão de seus bônus salariais em meio a um contexto de crise geral de trabalho em nome da manutenção de sua dignidade, em formato de vaga de emprego. Os Dardenne levantam um espelho social realista para seus espectadores.

 

  • 31º lugar: “PATERSON” (2016), de Jim Jarmusch

A poesia traduzida através da linguagem cinematográfica de Jim Jarmusch, um dos maiores autores do cenário do cinema independente norte-americano, na jornada de um motorista de ônibus em busca de seu auto-conhecimento através do amor e das relações aparentes que cruzam seu caminho na sua pequena cidade.