“Antologia da Cidade Fantasma”, filme canadense que fez parte da seleção do último Festival de Berlim dirigido por Denis Côté que possui elementos dramáticos e de mistério envolvendo uma pequena cidade que se vê atormentada por um acidente automobilístico estranho onde o motorista morre.
Sua mãe e o irmão, em choque, lidam com a reação de toda a cidade com o acontecimento, incluindo a prefeita e diversos vizinhos, e em meio ao estado generalizado de luto ocorrem algumas aparições estranhas para alguns moradores, aumentando a tensão local.
Côté usa muito bem o inverno canadense e o clima vazio conseqüente deste clima para nos situar no estado de espírito coletivo da cidade, o que cria o clima fantasmagórico citado no título do filme e bem ilustrado nas aparições estranhas que aos poucos vão sendo esclarecidas.
O ritmo lento e apropriado pela temática central é compensado por uma trilha sonora que incomoda, e o elenco vai bem nas cenas que exigem talento dramático, e o exercício de funcionamento de uma comunidade exposto pelo filme é bem realizado e traz boas discussões acerca do acontecimento inicial (o acidente), como lidar com isso coletivamente e as consequências das reflexões num plano menos realista e mais fantasioso.
O filme portanto funciona como um bom exercício geral sobre a morbidez do óbito e das relações humanas que lidam com esta morte, individualmente e coletivamente, e o desfecho se mostra otimista frente ao arco de seus protagonistas no eixo central da história, com pontas bem amarradas e uma estética bem estabelecida que reforça bem a frieza e o vazio dessas situações.