No melhor estilo sensorial e experimental de Gaspar Noé ou dos Irmãos Safdie, o diretor David Victori traz aqui uma ótima obra de cinema autoral espanhol. Partindo de um roteiro simples, coeso e bem montado, o filme conta com reviravoltas incríveis e que te prendem devido à habilidade admirável de Victori em transformar sua percepção num alucinante experimento imersivo. Decisões narrativas contribuem para isso.
O filme se passa no espaço de uma noite. Este pequeno tempo somado a um ótimo texto (também de Victori), com momentos de absurda e íntima relação de causa e consequência, facilita toda atenção e imersão pretendidas. Acompanhamos uma noite agitada do sereno e pacato Dani, que acabara de perder o pai. Dani tem uma vida metódica e muito regrada. A partir de certas resoluções, observamos eventos de completa desordem. Caos jamais experimentado por aquele sujeito.
O estilo subjetivo do diretor pontua bem o filme. Tanto na hora de ser observador íntimo de uma vida comum, quanto ao fazer a câmera sacudir e colocar o espectador na frenética e marcante noite. Os eventos gradativos que ocorrem enquadram Dani e nos fazem questionar: como agiríamos naquelas circunstâncias? Há saídas? A montagem de Alberto Gutiérrez é exímia e corrobora para o transtornado ritmo das consequências de vacilantes decisões.
O excelente e versátil Mario Casas interpreta Dani. Casas está cada vez mais melhor em tela. Consegue fazer qualquer gênero com uma facilidade tamanha. Assertivo, sabe projetar a voz para seus diversos papéis, além de controlar a emoção de maneira real e verossímil. A discussão proposta pelo filme nos coloca em momentos instáveis, de inconsequência, quando claudicantes decisões são absolutamente capazes de nos transformar – realmente – da noite pro dia. São transformações que jamais serão alteradas. Ah! Sim, eu acho que sim (entendeu?) para aquele final.