“Caminhos da Memória” (2021), de Lisa Joy
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8.9

 

Onde: Cinemas e logo mais HBOMAX

Conhece a história de que posso fechar os olhos e lembro-me do momento que quiser? Com detalhes, inclusive? O quão valioso é poder reviver um específico momento de nosso passado? Para a diretora Lisa Joy nossas reminiscências são de fato nosso bem maior. Ela, ao lado do marido e produtor Jonathan Nolan, já realizava essa ideia de maneira primorosa no excelente e imersivo seriado da HBO: “Westworld” (criado pelos dois). Aqui, em “Caminhos da memória”, Joy faz uma boa estreia nas telonas e Nolan é o produtor.

Todo o cuidado com a direção de arte é assertivo para nos situar numa Miami distópica, tomada pelo oceano, corrupta, em que todos vivem à noite devido ao calor que cobre o planeta. O anoitecer faz o filme andar e a intertextualidade com Blade Runner na estética, na paleta de cores, no mistério e no aspecto noir da obra é inexorável. Ainda assim, ela consegue almejar ares originais, ser bem executada, mas não evolui.

Um pouco mais sutil que os experimentos temporais dos filmes de Christopher Nolan, Lisa Joy realiza com êxito sua mistura de mistério, suspense e romance. Aqui seguimos Nick Bannister, um investigador cerebral (um ótimo Hugh Jackman) que auxilia seus clientes a alcançarem locais esquecidos de seu passado por meio de um mecanismo altamente desenvolvido que vasculha a memória. Destaque para a formidável e brutal investigadora Watts (Thandiwe Newton), parceira de Nick. Joy não se aprofunda na origem de tal aparato. Na mis-en-scène dela, o ser humano é sugado – por vezes – para o desejo perigoso das nossas precisas e inalcançáveis memórias.

Com a entrada da ‘femme fatale’ Mae na trama (uma Rebecca Ferguson dissimulada essencial ao noir), no intuito de usar o maquinário para descobrir onde deixou uma chave, o filme se arrasta num romance inevitável em seu segundo ato, e quase se perde ao desnortear o espectador ávido pela tecnologia e doutrina da reminiscência. Mas quando a diretora nos convida a passear pela Miami suja e corrompida, mostrando como funcionam os grupos que ali restaram, os absurdamente ricos e os ‘pobres’ esquecidos, a obra volta à ação e nos brinda com ótimas sequências. Rebecca Fergunson cantando “Nothing’s gonna hurt you baby”, do Cigarettes after Sex é hipnotizante.

Ao final, a obra diverte e seleciona seu público. Mas resta a sensação de que, mesmo buscando uma originalidade, já vimos aquele raso e rápido romance de uma produção noir em outros textos. O filme é longo e não se aprofunda no conhecimento filosófico por trás do instrumento de busca insaciável pelo passado. Vale dizer que – com um pano de fundo altamente politizado – Lisa Joy poderia chegar perto do que já fez em “Westworld” ao mesclar filosofia e política.