“PETER PAN & WENDY” (2023), de David Lowery
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6.3

Onde: Disneyplus

 

Mais recente adaptação em carne-e-osso dos clássicos da Disney, “Peter Pan & Wendy” conta a história clássica do menino que fugiu de casa para nunca virar adulto, e sua aventura com novos amigos que voam de Londres à Terra do Nunca, onde precisam enfrentar o terrível Capitão Gancho e sua trupe de piratas. Enquanto o clássico animado é adorado por uma legião de fãs por décadas, as versões mais recentes nunca conseguiram encontrar o mesmo amor do público. Infelizmente, parece que também não foi dessa vez.

Como fica óbvio já pelo título, o filme amplia a participação de Wendy, a menina criada em uma tradicional família inglesa de classe alta, ao elevar a personagem a co-protagonista, corretamente sugerindo que ela seria tão importante quanto Peter Pan. Curiosamente, o efeito é contrário – a expectativa que se cria ao redor dela é frustrada com a falta de desenvolvimento que a faria justiça. No novo roteiro, ela decide fugir de casa com Peter e seus irmãos pelo medo do colégio interno que a espera. O que poderia servir para o seu desenvolvimento e a realização de que crescer é uma coisa positiva, acaba virando um artifício raso com a resolução reduzida a uma única cena.

O grande problema de “Peter Pan e Wendy” é justamente a superficialidade. O filme tem grandes ideias de novos ângulos para a história original, inclusive sobre o passado de Peter e do Capitão Gancho e do porquê da rivalidade de ambos. Mas tudo termina é reduzido a pouco diálogos, o que não dá tempo para que a audiência se envolva o suficiente e aprenda as licões que teoricamente estariam ali. Nada é aprofundado o suficiente e a direção se perde ao pular da aventura ao drama para forçar o dinamismo.

Enquanto a caracterização dos personagens foi acertada, perde-se a magia de quase tudo – a Terra do Nunca é absolutamente genérica e decepcionante, Peter Pan vira um garoto mimado e nenhum dos outros personagens tem tempo de cena o suficiente para criar empatia. Os elementos deliciosos da versão originalficam restritos às referências que só servem para lembrar aos espectadores do que eles gostavam no passado. E ainda pior, os efeitos especiais deixam o filme com cara de produção de baixo orçamento, completamente injustificado em um filme da Disney.

Mas nem tudo é ruim – os piratas são um grande acerto, curiosamente na contramão de outras adaptações, como Aladdin, onde os vilões perderam o brilho. Dessa vez, eles deixam o filme mais interessante e divertido. Jude Law faz um trabalho bem decente como Capitão Gancho e consegue achar o tom certo entre a vilania e a humanização do personagem. A caraterização perde um pouco das características físicas imortalizadas com a animação, mas ele consegue fazer a sua própria versão. E o Smee de Jim Gaffigan funciona perfeitamente como alívio cômico, ainda que apareça pouco.

E a diversidade incluída no elenco é o outro ponto alto do filme – a verdade é que não importa se a Disney quer apenas varrer as críticas sobre a branquitude de seu passado, ver personagens icônicos sendo interpretados por atores de etnias diversas, um Menino Perdido com síndrome de Down e meninas sendo incluídas entre os personagens clássicos são todas mudanças a serem comemoradas. Infelizmente, a atuação fica aquém do esperado – nenhum dos atores-mirins principais consegue realmente incorporar os personagens de forma natural e bem-sucedida. Culpa principalmente da direção, que deveria ter trabalhado melhor para que eles encontrassem o tom certo. Os personagens adultos são melhores – além dos piratas, Yara Shahidi consegue fazer sua Sininho brilhar, mas ela também sai prejudicada pelo roteiro que apaga as nuances da personagem original.

Talvez a única solução para Peter Pan seja misturar todas as versões e deixar o melhor de cada uma. Caso contrário, melhor continuar com o desenho de 1953 e cortar a caracterização grotesca da tribo indígena que nos involuntariamente nos lembra dos problemas do colonialismo.