Já considerada a série mais vista da Netflix, “Olhos que Condenam” nos traz a história real de cinco adolescentes negros do Harlem, que foram injustamente acusados de estuprar uma mulher branca no Central Park no fim dos anos 80.
Cada garoto tem seu eixo familiar particular dentro da sociedade americana, e a permanente pontuação dessa antropologia social ligada a cada um dos personagens de forma imutável perante a linha do tempo da minissérie garantem a profundidade necessária ao terrível drama retratado.
Com todos seus quatro episódios dirigidos pela cineasta negra Ava DuVernay (diretora do filme “Selma – Uma Luta Pela Igualdade”), o arco é constituído pela apresentação dos personagens e o incidente principal que dá origem à prisão dos meninos no primeiro episódio, as estratégias de defesa e ataque e o julgamento dos garotos no segundo episódio.
Já no terceiro episódio temos os desdobramentos pós-condenação para os quatro adolescentes que foram pro reformatório juvenil e as respectivas liberdades em condicional já na fase adulta, e no último temos o desdobramento do único rapaz encaminhado para a prisão de adultos por causa de seus 16 anos recém-completos e o desfecho da série.
O trabalho de reconstituição de época é brilhante, e a composição de cada um dos cinco personagens foi muito bem construída pela produção, e DuVernay usa muito bem signos envolvendo patriotismo, Trump, racismo velado, homofobia, questão prisonal, além da estruturação das cenas com posicionamentos das câmeras que transpassam sentimentos de revolta e angústia aos espectadores.
O elenco está muito bem, mesmo os atores com papéis menores, e em especial o ator Jharrel Jerome (de “Moonlight – Sob a Luz do Luar”), que faz um dos personagens, Korey Wise, na fase adolescente e adulta, e mesmo com as mudanças ao longo do tempo, consegue nos mostrar exatamente o que ocorre com seu personagem.
Apesar de poucos momentos de discurso panfletário literal, a minissérie nos conduz bem pela história de injustiça a ser contada sem escorregar em qualquer sectarismo, sendo crua e literal quanto aos fatos sem perder a ternura nos momentos que precisa para ressaltar aquilo que tiraram desses cinco jovens.