Nesta semana estreou a série desenvolvida pelo cineasta John Carney (de “Apenas Uma Vez” e “Sing Street”) para a Amazon, baseada em artigos publicados no jornal New York Times, chamada “Modern Love”.
A série, dividida em oito episódios independentes, trazem histórias de amor contemporâneo dos mais diversos que flertam com o gênero da comédia romântica e com o drama, com a narrativa e estilo característicos do cinema de Carney, envolvendo bons diálogos e boa música entre atos de cada epísódio, aqui descritos:
Ep. 1 – Quando o porteiro é o seu melhor homem – nota: 9,5
Traz a história de Maggie (Cristin Milioti), uma jovem solitária que a cada ato ou relacionamento recebe o julgamento de seu misterioso porteiro Guzmin (Laurentiu Possa), que aos poucos se torna figura essencial no amadurecimento de Maggie.
O mistério do tipo de amor que Guzmin sente por Maggie vai sendo desvendado ao longo do episódio de forma bem cuidadosa, e a sinergia entre Milioti e Possa ajuda a criar o crescente emocional que o episódio exige, com um desfecho de abrir um sorriso marejado dos mais experientes.
Ep. 2 – Quando o cupido é uma jornalista intrometida – nota: 10,0
A experiente jornalista Julie (Catherine Keener) entrevista o jovem criador de um aplicativo de paquera, Justin (Dev Patel). Ao final da entrevista, Julie questiona motivos sentimentais por trás daquela criação, e os relatos de Justin encontram muita sinergia com o passado amoroso da própria Julie.
Este episódio centra mais a narrativa sobre a questão dos desencontros amorosos e sobre a aceitação ou não disso ao longo da vida, sob diferentes perspectivas, a cada novo relato de Julie e Justin surgem histórias de amor belas, tristes, maduras e impulsivas que enriquecem o episódio com ternura e boas interpretações de Keener, Patel e um surpreendente Andy Garcia numa pequena porém impactante aparição.
Ep. 3 – Me aceite como eu sou, não importe quem eu seja – nota: 10,0
A competente advogada de entretenimento Lexi (Anne Hathaway) encontra um possível interesse romântico no supermercado, porém questões de saúde que ela costuma omitir para não ser julgada por outras pessoas vêm à tona e trazem dificuldades em todas as esferas de sua vida.
Talvez o episódio mais ousado dessa temporada, e com o melhor trabalho de interpretação da série realizado por Hathaway, realça aos olhos as escolhas narrativas que aprofundam as características daquilo que limita a protagonista na busca de realizações, e trazem valor cinematográfico à mensagem final, numa cena emocionante da protagonista com sua chefe.
Ep. 4 – Rali Para Manter o Jogo Vivo – nota: 8,5
Sarah (Tina Fey) e Dennis (John Slattery) são um casal de meia-idade com dois filhos que vive crise conjugal, e tentam solucionar seus problemas afetivos com terapia conjugal e atividades exclusivas entre eles, como sessões de cinema e partidas de tênis.
Tratando centralmente da longevidade de relações e os laços que as definem, o roteiro se apóia no talento de Fey e Slattery, que funcionam bem em seus personagens, e na metáfora do desenvolvimento do jogo de tênis entre eles, individualmente e coletivamente, com seus papéis na relação analisada durante o episódio.
Ep. 5 – No Hospital, um Interlúdio de Claridade – nota: 8,0
O episódio centra no encontro entre Rob (John Gallagher Jr.) e Yasmin (Sofia Boutella), que acaba dando errado após um acidente caseiro de Rob com uma taça de vinho, que o faz ser hospitalizado e, durante sua permanência ali até receber alta, ele e Yasmin acabam conhecendo os seus defeitos por trás do jogo amoroso.
Aqui a abordagem é sobre o significado de encontros amorosos ruins e seus detalhes nos dias de hoje, de modernidade e conceitos de amor líquido, e se os protagonistas não abrilhantam as importantes questões levantadas, o eixo central prende a atenção pela sua urgência atual na sociedade.
Ep. 6 – Então, ele parece com meu pai. Mas é só um jantar, certo? – nota: 7,0
Maddy (Julia Garner) é uma jovem com questões envolvendo ausência paterna desde seus 11 anos, quando seu pai faleceu. Ao conhecer um professor universitário em seu trabalho que remete ao seu padrão do que seria seu pai hoje, Peter (Shea Whigham), ela desenvolve uma relação entre flerte e admiração com ele.
Talvez o episódio mais confuso dessa temporada, apesar da boa química entre Garner e Whigham que mantém a aura de indefinição do que assistimos no ar, mas traz pouca conexão com a evolução da protagonista naquela situação e num desfecho em aberto que não traz muitas reflexões óbvias.
Ep. 7 – O Mundo Dela Era de Um Só – nota: 9,0
Tobin (Andrew Scott) e Andy (Brandon Kyle Goodman) são um casal gay que decide adotar uma criança através de “barriga de aluguel”. Após várias buscas e muita papelada, acabam conhecendo a sem-teto e idealista Karla (Olivia Cooke), que topa ser a mãe do bebê deles desde que eles provem que se amem de verdade.
Tratando ao mesmo tempo de diversidade, através do casal gay, e aspectos sociais e políticos através das convicções e estilo de vida da mãe de aluguel, o roteiro consegue fazer um bom enredo entre estes três personagens unidos por um interesse comum, tão diferentes entre si e ao mesmo tempo descobrindo elos improváveis entre o que sentem e o que acreditam.
Ep. 8 – A Corrida Fica Melhor Assim Que a Última Volta Se Aproxima – nota 9,0
Margot (Jane Alexander) e Kenji (James Saito), ambos idosos, se conhecem numa corrida de rua e acabam se apaixonando e casando, até Kenji falecer e com isso Margot relembrar seus bons momentos juntos.
Talvez o episódio mais minimalista da temporada, sem perder a profundidade que o tema do amor na terceira idade traz consigo em signos silenciosos porém muito belos, onde Alexander e Saito trazem uma delicadeza profunda na relação madura entre eles, em todos seus aspectos.
E na bela cena final deste episódio, durante uma chuva de verão, constroem um epílogo que trazem peças que se encaixam em todos episódios anteriores e complementam seus desfechos, criando a sinergia em que a cidade une todas aquelas experiências amorosas únicas e contemporâneas que dão nome à série.