Onde ver: Netflix
9.5Nota da Hybrido
Votação do leitor 6 Votos
9.1

Se você não curte o nicho das altíssimas finanças de Nova Iorque e usa isso como critério para escolher o que assistir, você pode estar perdendo uma série sensacional. Billions, em sua quarta temporada e cujo plot inicial é batalha entre a lei e o dinheiro, representados respectivamente pelo promotor Chuck Rhoades (Paul Giamatti) e pelo multimilionário investidor Bob “Axe” Axelrod (Damien Lewis) é hoje uma explosão de arcos dramáticos.

As tramas de Wall Street são somente o pano de fundo para o duelo de ambições dos dois protagonistas, mas a série poderia facilmente ser ambientada em qualquer cenário onde inteligência e estratégia são fundamentais. Repletos de questionamentos éticos e morais, os dramas e conflitos de Billions lembram com louvor o auge das articulações políticas de Game of Thrones ou mesmo o ápice das artimanhas de Frank Underwood.

Logo na primeira temporada percebe-se que não será nada fácil determinar, entre os dois personagens principais, quem é o protagonista e o antagonista da trama. Chuck e Axe são adversários à altura um do outro, daqueles que conseguem tirar o melhor e o pior de seu arquirrival. Os embates, ainda que extremamente estratégicos, são movidos a muita testosterona e vencer não é suficiente: o inimigo precisa ser simplesmente dizimado. Paul Giamatti e Damien Lewis os interpretam com perfeição.

O fiel da balança entre os dois é Wendy Rhoades (Maggie Siff), a mais rica e complexa de todos os personagens da série. Wendy é uma psicóloga brilhante, muito bem casada com Chuck e braço direito de Axe, que atua no aconselhamento da equipe de AxeCorp desde o início da empresa. É através dela que o espectador consegue entender todas as facetas e camadas dos protagonistas e de alguns outros personagens.

Entre o casamento e o trabalho, Wendy se equilibra numa complicada e perigosa corda bamba da moralidade e ela o faz com força, objetividade, autoridade e muita elegância. Nesta quarta temporada, uma experiência a faz usar o termo “força da natureza” para expressar como se sentiu e, convenhamos, é isso que ela é.

O que faz de Billions uma série tão incrível é, principalmente, o seu roteiro. A complexidade do mercado financeiro é apresentada de forma compreensível porém sem nenhuma condescendência. Até nossa Petrobrás já foi citada. Os diálogos são precisos, ágeis e inteligentes, praticamente irretocáveis, o que é raro. Sabe quando você tem plena noção do que determinado personagem deveria responder numa situação e fica decepcionado quando não vê tal resposta? Isso não acontece em Billions.

O brilhantismo do roteiro não ofusca outros aspectos técnicos. A trilha sonora é certeira, com clássicos que se encaixam perfeitamente ao enredo. Da mesma forma, a fotografia é primorosa, nos levando do claro, leve e moderno mundo de Axe ao escuro, tradicional e clássico mundo de Chuck num piscar de olhos. Pode parecer um enredo facilmente esgotável mas, acredite, a série se supera a cada temporada.

Personagens secundários ganham destaque, como Chuck Rhoades Sr. (Jeffrey DeMunn) e Mike ‘Wags’ Wagner (David Costabile) – um dos sócios de Axe. Taylor Mason (Asia Kate Dillon) – prodígio de identidade não-binária – e o mafioso russo Grigor Andolov (John Malkovich) também chegam para abalar o equilíbrio do poder e incrementar a trama de traições e alianças nos dois lados do embate principal.

E, por mais incrível que possa parecer, nenhuma trama é secundária. Todas as quatro temporadas já exibidas começaram despretenciosas e terminaram fechando belos arcos e, ainda assim, com ganchos de tirar o folêgo que abrem belas possibilidades. Escolha seus heróis e seus vilões, você certamente mudará de ideia mais de uma vez no caminho. Mas fica o aviso: nunca confie em ninguém com mais de 30… milhões de dólares.