Ana (Débora Falabella) é uma escritora em fase de desenvolvimento de seu primeiro romance. Sofrendo com bloqueio criativo, ela é aceita no disputado grupo de escrita conduzido por Holden (Dario Grandinetti), respeitado e enigmático escritor que, após muito sucesso, se refugiou para desenvolvimento de seu método próprio de escrita.
Isolados nos Andes, aos poucos vamos sendo introduzidos ao método de Holden, que propõe a vivência íntima do autor acerca das circunstâncias propostas por ele, através da apropriação identitária de sua criação ficcional. Desta forma, Ana é convidada a se apossar de Violeta, sua personagem, através de provocações propostas por Holden, que instiga a exploração das problemáticas, emoções e psiquê da personagem, incentivando o florescer de Violeta – que rapidamente se revela como alter ego da protagonista.
As problemáticas decorrentes do endeusamento de figuras hierárquicas místicas são questionadas através da personificação de Holden como o guru da escrita, propondo o roteiro uma análise crítica quanto à terceirização desmedida de nossas escolhas pessoais e profissionais. A figura imperativa de Holden (através do ótimo ator Dario Grandinetti) compreende a prepotência, sadismo e sensualidade, elementos necessários à garantia do jogo manipulativo proposto por ele. Ana embarca em um mergulho ritualístico, que resulta na junção de duas corporalidades – Ana e Violeta – seus traumas e desejos, unificando o processo cognitivo de compreensão e percepção do universo e resultando em segmentadas e progressivas ações pautadas na instabilidade moral, decorrente da união entre dois universos psíquicos distintos.
Fernando Fraiha explora o limiar entre o consciente, sub e inconsciente humano, ao concentrar a jornada transgressora de sua protagonista, apesar das provocações externas, na internalidade de sua própria psiquê. Desta forma, a transformação e processo de individualização de Ana perpassam pela absorção do universo psíquico de Violeta.
Para construção deste multiverso, o diretor se utiliza de uma fotografia oscilante – além da colorização – através da variável entre retração e/ou dilatação temporal – de acordo com as necessidades do universo retratado. Conta ainda com inserções abruptas de projeções narrativas, através de flashes, que corroboram para a construção imagética do espectador acerca da personificação de Violeta, bem como, para a percepção subjetiva do público acerca desta mescla de universos psíquicos.
Nesse sentido, é necessário destacar a atuação de Débora Falabella, que absorve a narrativa polarizada e complexa de sua personagem de forma fluida e profunda, conseguindo equilibrar, sem histrionismo, a linearidade conclusiva e inevitável da trajetória-base de transformação de Ana com a inserção e “possessão” do universo de seu alter ego.
Bem-vinda, Violeta! | Teaser oficial
“Bem-vinda, Violeta!”, de Fernando Fraiha, um dos criadores do “Choque de Cultura”, teve sua estreia mundial no Brklyn Film Festival 2022 e chega em breve, exclusivamente nos cinemas! Sinopse: Ansiosa para escrever seu próximo romance, “Violeta”, Ana ingressa na “Residência do Fim do Mundo”, um conhecido laboratório literário da Cordilheira dos Andes.