Jarvis Cocker pode ser considerado uma verdadeira odisseia inventiva e criativa que molda seu próprio universo metafórico. Ex-líder da emblemática banda britânica Pulp, um dos grandes expoentes do Britpop nos anos 80, que veio a ficar mais conhecida com a explosão do gênero nos anos 90. Cocker não se deixou cair no comodismo e mesmice, participou de inúmeros projetos musicais e, em meados de 2017, criou o Jarv Is.… chegando a lançar alguns singles como “Must I Envolve” e “House Music All Night Long” que antecederam o Debut ‘Beyond The Pale’ que saiu em julho desse ano.
Jarv Is.… conta em sua formação com os músicos Serafina Steer (harpa, teclados e vozes), Emma Smith (violino, guitarra e vozes), Jason Buckle (sintetizadores), Andrew Mckinney (baixo) e Adam Betts (bateria).
‘Beyond the Pale’ traz em sua conjuntura sete canções muito bem arranjadas sinfonicamente, que emanam o melhor do Art Rock e do Britpop. Um som alegre, dançante, cheio de vida e pura energia. Difícil não notar referencias de Talking Heads, David Bowie, Leonard Cohen e até mesmo do próprio Pulp.
O álbum abre um paralelo com o mundo tecnológico e a depreciação do contato humano. Em versos curtos e líricos apoiados por um gigantesco instrumental, que motiva o ouvinte a viajar por uma atmosfera envolvente e sedutora, com vocais sempre precisos. As canções em ‘Beyond the Pale’, vão se ligando por momentos ternos, de calmaria, cinismo, que se misturam a instantes eufóricos e provocativos. Algo sensacional que evidencia o entrosamento entre os membros da banda. Arranjos eletrônicos embasados por sintetizadores, a sinfonia do violino apoiada pelos acordes de guitarras, as batidas da bateria, vocais e backing vocals, tudo diluído em plena sintonia.
Jarvis Cocker se mostra um músico maduro, experiente, seguro e com total liberdade para criar seu universo musical. Um músico intelectual. E que sabe usar essa intelectualidade para resgatar e renovar a acidez e o senso crítico emanado no Pulp, e puxar isso de forma extrovertida para o seu novo projeto Jarv Is. Algo somente possível para uma mente artística, sarcástica e literária. Cocker se coloca como um personagem de um mundo distante, observando com um olhar sagaz a humanidade se corromper e se afogar no próprio vomito. Algo semelhante aos quadrinhos de Charles Burns, para citar um exemplo.
Aumente o som, coloque bons fones de ouvido e se entregue a essa viagem sonora estimulante e revigorante. Ouça “Must I Envolve”, “Am I Missing Something? ”, “Swanky Modes” e “House Music All Night long” e, entre no clímax.