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9Nota da Hybrido
Votação do leitor 3 Votos
9.6

Pegando carona na resenha de “Nove Rainhas” do Cadu Moura aqui para a Hybrido, resolvi escrever sobre mais uma pérola do cinema argentino, “Medianeras”, escrito e dirigido por Gustavo Taretto e lançado em 2011.

O filme, cujo argumento veio de um curta do mesmo autor de 2005, conta a história de Mariana (Pilar López de Ayala, maravilhosa) e Martin (Javier Drolas, crush absoluto) através de reflexões sobre arquitetura moderna e a vida nas metrópoles, e o impacto das tecnologias digitais nas nossas vidas, em especial nas relações pessoais.

O título completo, inclusive, parece até aqueles que damos a artigos acadêmicos: “Medianeras: Buenos Aires na era do amor virtual”. Pode até ser que essa descrição inicial afaste os mais superficiais (outra epidemia contemporânea), mas juro que o filme vale ser visto, dando aquele calorzinho no coração.

“Medianeras” começa em tom melancólico, apresentando os dois personagens e seus dilemas emocionais. O título faz referência às laterais dos edifícios, aquelas partes quase janelas e sem enfeites, que em geral vão se deteriorando com o tempo ou viram espaços para outdoors. Fingimos que não existem, mas elas estão ali como um sinal da opressão da vida encaixotada das grandes cidades.

Diria que o filme tem, na verdade, 4 protagonistas: o casal, a arquitetura de Buenos Aires e a Internet. Durante toda a narrativa, através de imagens e de suas falas, somos convidados a pensar sobre como o lugar e o nosso modo de vida coletivos têm influência sobre nossas emoções, nossa vida interior.

Martin, um web designer deprimido e fóbico, relaciona a arquitetura com o impacto da vida em uma cidade grande de um país recém saído de uma grave crise econômica e os problemas que isso acarretou na população.

Já Mariana curiosamente uma arquiteta, mas que nunca “construiu nada”, tenta aprender a ser sozinha novamente após terminar uma relação longa. Ambos estão isolados em suas “caixas de sapatos”, apesar da conexão virtual que supostamente os aproximaria do mundo. Conforme os personagens vão tentando lidar com suas questões, passando por muitos dates errados típicos da nossa época, a história vai ficando mais leve.

O roteiro tem uma virada a partir da abertura de janelas nas tais medianeras de seus prédios, uma “via de escape ilegal”, como afirma Mariana, para o sufocamento dos apartamentos pequenos e mal localizados. Destaque para a cena em que toca “True love will find you in the end”, de Daniel Johnston.

Além da história que gera grande identificação com as questões dos personagens – afinal, muitos de nós moramos numa caixa de sapatos numa grande cidade, nos escondemos na Internet como Martin e não sabemos “Onde está o Wally?” como Mariana – o filme encanta por sua fotografia, direção de arte e jogos de imagens através da edição e montagem. Um deleite para os olhos e para o coração na era da (des)conexão.
PS.: não percam a cena “quase” pós créditos