“O Preço da Verdade”, o novo filme de Todd Haynes (de “Carol” e “Longe do Paraíso”), foge um pouco do estilo do cineasta em abordar questões de gênero e relações afetivas, focando mais na questão social mais ampla que o associa diretamente a um filme menos conhecido dele, “Mal do Século”.
Aqui vemos o advogado ambientalista voltado para corporações, Rob Bilott (Mark Ruffalo), que é abordado pelo fazendeiro Wilbur (Bill Camp) em seu escritório para o auxiliar numa suposta contaminação de sua fazenda por uma grande empresa, através da água.
Relutante em aceitar a causa, que pode implicar tensões internas no quadro associativo de sua firma, Rob presta assessoria indireta a Wilbur, e analisando os documentos percebe que existe algo ainda mais grave por trás daquela questão, o fazendo se debruçar completamente na causa, trazendo consequências nos campos profissional e familiar ao longo dos anos de disputa judicial.
Haynes conduz toda a história de forma alongada, o que nos permite fazer um paralelo imediato à jornada de longo prazo a qual o protagonista se submete em nome da justiça em defesa de trabalhadores humildes de sua terra natal, e também pinça referências breves, porém claras, da desigualdade vigente ao longo de cenas.
Seja na constante avaliação da cidade natal do protagonista, passando pela totalidade negra servindo uma totalidade branca num evento institucional, ou ainda os efeitos da exploração de trabalho não regulada pelas autoridades públicas norte-americanas.
O filme é um excelente documento de alerta sobre questões ambientais e o estado grave em que a sociedade se encontra nessa seara, apoiada em outros problemas mais amplos e não menos graves em termos sociais.
A fotografia de Edward Lachman usa muito de tons azulados para ilustrar a frieza do mundo em que vivemos, com tons ainda mais opacos na pequena cidade natal de Bilott, em contraste às cores mais quentes em ambientes da firma e da casa do protagonista, mais abastadas economicamente.
Mark Ruffalo empresta seu habitual carisma e acrescenta muita convicção em seu obstinado e revoltado protagonista em busca da solução das injustiças que cruzam seu caminho, e é bem apoiado por Anne Hathaway como sua esposa (que possui um subtexto de colocação da mulher no mercado após gravidez bem interessante), e por um truculento Bill Camp como o fazendeiro raivoso com a morte de seu ganha-pão (a fazenda e seus animais), e as consequências disso aos seus familiares e vizinhos.
“O Preço da Verdade” portanto, se não fica entre as melhores obras da filmografia de Todd Haynes, mantém um bom nível com uma história importante e atual, sem deixar para trás seu traço habitual de cinema, mesmo que diluído na premissa ambiental que é central na narrativa.