Beetlejuice, Beetlejuice, Beetlejuice!
Como é bom poder falar (no caso, escrever) isso novamente!
Confesso que fui assistir “Os Fantasmas ainda se divertem: Beetlejuice Beetlejuice” com um certo temor pelo meu coração Burtoniano. Isso porque temos acompanhado um boom de remakes e sequências negligentes, para dizer o mínimo, de grandes sucessos e clássicos do cinema.
BeetleJuice é um filme que marcou por sua inovação e coragem.
Como de costume na cinematografia do diretor, o filme original tem uma narrativa que abarca temas delicados como morte, distúrbios psiquiátricos, diferenças de classe, empatia, diversidade, pertencimento, novas configurações familiares, e tudo isso em 1988, mesmo ano da promulgação da Constituição Federal do Brasil, para se traçar um paralelo histórico.
Soma-se ao enredo uma visão peculiar, estranha e gótica, como forma de ilustração de ambientes e sensações por vezes ambíguas e indescritíveis. Com ampla mistura de linguagem e referências, o diretor aposta no sensorial e no visual como partes vitais de suas narrativas.
Através de um universo particular, pessoas, mental, física e até mesmo metafisicamente diversas procuram uma forma de coexistir. Taí uma das chaves que garantem que o filme mantenha sua atualidade. No fim das contas, fala sobre o processo de aceitação, empatia; processos os quais até os dias de hoje lutamos para compreender.
Mas o que o torna o filme de fato especial é o mecanismo usado para contar essa história: a estética gótica e artesanal do universo de Beetlejuice, cuja manutenção, aliás, era alvo de outra preocupação, tendo em vista o atual e desenfreado uso e tratamento de efeitos especiais – o famoso CGI.
Nesse sentido, um dos fatores que de cara empolga pela sequência é justamente o cuidado de Tim Burton e também do próprio Michael Keaton com relação à manutenção dos princípios criativos originais do filme, principalmente no que diz respeito à animação, à estética, decisão extremamente acertada e reconfortante.
Beetlejuice não é um filme que necessariamente precisaria de uma continuação – não que algum filme de fato precise – mas o que quero dizer é que o primeiro filme encerra seu arco narrativo de forma precisa. Então não haveria muito porquê voltar, a não ser para se deleitar novamente em um processo e universo criativos latentes como os de Beetlejuice.
Na sequência, Lydia Deetz (Winona Rider), é famosa por apresentar um programa de televisão em que explora seus dons mediúnicos. Ela é mãe da adolescente Astrid (Jenna Ortega), introvertida igual ela. A família se reúne na antiga casa de Winter River por conta de uma tragédia inesperada. Um dia, ao explorar o antigo sótão, Beetlejuice acaba sendo evocado novamente.
Michael Keaton (que é meu Batman para sempre, mas isso é conversa para outro texto) retoma com vontade e vitalidade um dos melhores papéis de sua carreira, bem como Winona Ryder e Catherine O’Hara, que repetem com gosto suas personagens.
Aliás, o repeteco é completo: adolescente mal humorada, madrasta egocêntrica e megalomaníaca, a ironia do universo burocrático do pós morte, ótimos números musicais, piadelas sem graça, mas muito espirituosas (captou?), tudo besuntado nas estranhezas e particularidades da mente de Tim Burton.
Com tantos retornos, impossível não mencionar Charles, pai de Lydia, que no filme é o centro do encontro dos personagens, que se reúnem em razão de sua morte. Na verdade, o ator Jeffrey Jones, que interpretou Charles no filme original, foi preso em 2002 por acusações de pornografia infantil, crime o qual confessou. A solução para sua ausência foi a morte do personagem, cujo enredo constitui uma sequência de fatos violentos e absurdos, contados em forma de animação, como clara retalhação ao ator, ainda que, contudo, a imagem dele apareça mais do que o esperado.
Passando aos novos personagens, Jenna Ortega funciona muito bem como a garota adolescente ressentida pela morte de seu pai e com dificuldades em se comunicar com sua mãe. Jenna, aliás, mostra tamanha integração ao universo de Tim Burton que seu arco funciona tanto por conta, quanto como ponto de conexão entre os demais.
Outro que merece destaque é Justin Threoux, que interpreta o namorado lixo e usurpador de Lydia. O ator pinta e borda como o esteriótipo do “esquerdomacho palestrinha”.
O filme ainda conta com mais participações especiais, algumas que se concentram na função honorária da presença em si – não darei spoilers – e outras, como é o caso de Willem Dafoe e Monica Bellucci, que deveriam assumir papeis mais ativos na trama.
Digo “deveriam” porque a impressão que dá é de que ambos os personagens ficam meio soltos, ganhando alguns relances narrativos como forma de justificativa para suas funções “ex machina” no roteiro, ou seja, como pontos de soluções de conflitos na trama.
Nada que prejudique de fato o desenrolar da história, mas acabam sendo mal aproveitadas as presenças dos mesmos, principalmente no que diz respeito à Monica Bellucci, em que, ainda que de forma cômica, acompanhamos literalmente o processo de exaltação e construção da musa subversiva de Tim Burton, se é que me entendem.
Retomando os pontos positivos, o filme traz números musicais marcantes com grandes homenagens, a exemplo do primeiro filme, que homenageou o cantor Harry Belafonte. Desta vez, o escolhido foi Richard Harris (ator e cantor) em sua interpretação inesquecível da música “MacArthurPark”, exaltando mais uma vez o gosto musical rebuscado e inusitado de Tim Burton. O famoso programa de Televisão Soul Train, que teve 39 temporadas nos Estados Unidos, também participa deste combo nostálgico, que ainda abrange o cinema espanhol e italiano.
O que é possível sentir em Beetlejuice Beetlejuice não é um retorno à essência de Tim Burton, até mesmo porque ela sempre se presentificou, em todos os seus trabalhos, mas sim, um comprometimento, uma disponibilidade com a leveza e a liberdade de criação, só possíveis com a despretensão de uma obra e de um personagem como Bettlejuice.
Há talvez quem considere que o filme não passe de mero exercício de nostalgia. Ao meu ver, “Os Fantasmas ainda se divertem: Beetlejuice Beetlejuice” “se vale de” e mantém a qualidade do original, conseguindo um feito creditável ao se comunicar com novas gerações, apostando na essência e estética inovadoras que garantiram – e garantem até hoje – a Tim Burton cadeira cativa em um nicho inigualável de criatividade e forma, mostrando, por fim, que é possível fazer filmes interessantes, despretensiosos, divertidos, e inteligentes, com criatividade e originalidade, fugindo do padrão plastificado, instaurado por um processo algorítmico, massivo de produção cinematográfica.
O próprio diretor, em entrevistas, comentou acerca de seu desconforto com o fazer cinematográfico, afirmando que o processo do filme foi de reencontro com seu prazer em fazer as coisas, da maneira que gosta. Como resultado, temos Tim Burton fazendo o que sabe fazer de melhor, misturando conceitos a princípio antagônicos, como belo/feio, humor/terror, lúdico/real, num grande caldeirão que faz com que nos conectemos com sentimentos que nem sabemos expressar ou refletir sobre. Ou que, no mínimo dos mínimos, garantem bom entretenimento e ótimas risadas.
OS FANTASMAS AINDA SE DIVERTEM: BEETLEJUICE BEETLEJUICE l Trailer Oficial
É Hora do Show! #OsFantasmasAindaSeDivertem #Beetlejuice #Beetlejuice – Somente nos cinemas em 5 de setembro. Beetlejuice está de volta! Indicados ao Oscar, o visionário Tim Burton, com sua criatividade única, e o astro Michael Keaton, estão juntos novamente em Os Fantasmas Ainda se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice, a aguardada sequência do premiado “Os Fantasmas se Divertem”.