Exibido no último Festival de Brasília, “Piedade” é o novo filme do cineasta brasileiro Cláudio Assis, e mais uma produção que trata, mesmo que indiretamente, sobre a gentrificação que vem ocorrendo na região de Recife há anos.
A história se passa na região fictícia de Piedade, onde moradores são abordados por um CEO da empresa Petrogreen, Aurélio (Matheus Nachtergaele) para que vendam suas terras para a empresa, em troca de justa compensação financeira.
Os objetivos corporativos da Petrogreen esbarram na resistência de abandonar a área pela família de Carminha (Fernanda Montenegro), liderada pelo seu filho Omar (Irandhir Santos), pela tradição do local e contra os interesses da empresa.
Cláudio Assis cria um painel, através do conflito da família com o executivo, do que alguns bairros de Recife têm vivido com a especulação imobiliária e a exploração indiscriminada de recursos naturais sem qualquer preocupação ambiental envolvida.
A fotografia sabe explorar bem os ambientes mais escuros, onde vários personagens apresentam suas verdades escondidas das máscaras que vestem perante a sociedade, e também o vermelho quando trata da violência da ocupação empresarial no litoral, ou nas imagens amadoras de protesto local contra a presença de corporações, tudo ali compõe bem o eixo central do filme.
O filme consegue também boas atuações de seu elenco, para além dos ótimos Irandhir Santos, Fernanda Montenegro e Matheus Nachtergaele, principalmente com Cauã Reymond que faz um proprietário gay de uma casa de massagem sem escorregar para os estereótipos clássicos.
Embora não se trate de um grande destaque da ótima filmografia de Cláudio Assis, “Piedade” é um bom filme que, se não explora a narrativa clássica do cinema, consegue funcionar como uma boa imagem de um contexto realista para quem mora em cidades grandes, que tremendamente bem enquadrada em sua cena final.