Este filme, quase secreto dentro da Netflix, é daquelas pequenas preciosidades para quem curte um filme intimista recheado de diálogos e reflexões sobre relações amorosas na atual realidade baumaniana do “amor líquido”, e que também nos traz mais um bom nome a ser acompanhado daqui pra frente, que é do diretor Rodrigo Sorogoyen, que também assina o ótimo roteiro junto com Isabel Peña.
Nesta história, Ele (Javier Pereira) avista Ela (Aura Garrido) numa festa, e a aborda apontando que se apaixonou por ela à primeira vista, e Ela o refuta na festa, afirmando não acreditar naquela declaração. Ele não se dá por satisfeito e insiste na abordagem com ela pelas ruas de Madrid na saída da festa, e daí eles vão dialogando pela rua construindo o jogo psicológico e ideológico do flerte entre homem e mulher, com cada lado defendendo seu ponto de vista.
Sorogoyen faz dessa premissa simples e centrada em dois personagens uma representação bem construída do contexto de relacionamentos amorosos no mundo de hoje, e sabe utilizar bem as ferramentas psicológicas inclusive para envolver o próprio espectador nas idas e vindas do diálogo que vai se estabelecendo cena após cena.
O diretor espanhol guarda para o último ato o momento dramatúrgico onde ambos se desnudam e transparecem o que é real nas relações entre homem e mulher numa nova geração, e levanta diversas reflexões necessárias para serem pensadas e debatidas independente de ideologias envolvidas, realizando assim um drama que se referencia bastante na primeira parte da clássica trilogia do relacionamento de Richard Linklater (“Antes do Amanhecer”), mas com seu último ato sob um filtro mais associado ao cinema de Michael Haneke, intenso e profundo, mas sem vernizes compensatórias clássicas dos filmes românticos. Um filme que merece ser mais visto e compartilhado com certeza.
Onde ver: Netflix – https://www.netflix.com/title/80063889