Em continuação aos dois posts anteriores com os filmes que ocuparam da 50ª até a 31ª posição, e da 30ª a 11ª posição, enfim chegamos ao top 10 dos filmes produzidos de 2010 a 2019, que merecem maior destaque na defesa de suas escolhas. Vejamos:

 

  • 10º lugar: “EM TRÂNSITO” (2018), de Christian Petzold

Uma França contemporânea ocupada pelos nazistas, como há anos atrás, onde um refugiado assume a identidade de um escritor para poder fugir do país, e com isso também a autoria das cartas do falecido à sua esposa, assim como o amor por ela.

Transitando em referências a clássicos como “Casablanca”, este filme é uma jóia rara pouco acessada para além da comunidade cinéfila, e merece todo o destaque pela sua premissa, além da ótima narrativa adaptada de um texto bem antigo, mas que o mundo o torna infelizmente atual.

 

  • 9º lugar: “ELLE” (2016), de Paul Verhoeven

Elle, uma executiva do mundo dos games que se torna uma vítima de estupro em sua própria casa, e que busca de forma obcecada seu algoz. A significação daquele ato como uma continuidade de outros eventos do passado no mesmo teor coloca sua percepção numa ambiguidade peculiar, e até mesmo excêntrica.

Verhoeven, mesmo brincando em terreno perigoso, faz de sua protagonista uma mulher forte e única naquilo que ela se propõe: resolver o que lhe atormenta consigo mesma, para além da violência sofrida por ela, e encontra em Isabelle Huppert a parceira perfeita para fazer de seu filme algo extremamente relevante pro cinema nesses últimos dez anos.

 

  • 8º lugar: “A ÁRVORE DA VIDA”, de Terrence Malick

A reavaliação da infância enquanto balizador do que você é. O protagonista reflete sua relação com os pais e irmão na vida adulta, e sua infância passa a seus olhos pela delicada condução de Malick ao longo do quintal e aposentos de sua casa.

A reflexão de nossas próprias origens enquanto seres humanos é também acessada, como o passado e presente de todos nós como extensão da origem da vida humana. O diretor ao todo faz valer a pena nossa viagem em meio às divagações de seu atormentado protagonista buscando ajustes com seu passado.

 

  • 7º lugar: “O IRLANDÊS” (2019), de Martin Scorsese

Uma jornada de vida contada ao longo da própria história dos Estados Unidos, assim como um estudo de personagem imprensado pelas suas próprias escolhas ao fim de sua própria jornada, sob a autoria de um dos maiores realizadores do cinema contemporâneo.

Brincando com o gênero que lhe deu a notoriedade que o seu cinema já exigia, Scorsese nos dá algo além em forma de melancolia montada de acordo como a vida funciona, num ritmo acelerado que vai vagarosamente se tornando mais perceptivo e reflexivo.

 

  • 6º lugar: “PHOENIX” (2014), de Christian Petzold

Nelly tem uma segunda chance de conhecer seu marido de verdade, ao sobreviver ao período reclusa em campos de concentração, onde foi desfigurada, e reencontrá-lo. Ao não reconhecê-la, ele propõe a ela se passar por sua “esposa falecida” para um golpe.

Petzold cria um universo de limbo na Berlim pós-guerra para sua protagonista encontrar seu caminho após viver seu inferno particular nos campos de concentração, e como uma fênix renascer das cinzas com a potência que a premissa exigia, num final até hoje relembrado por quem já teve o prazer de assistir a este grande filme.

 

  • 5º lugar: “O RETRATO DE UMA JOVEM EM CHAMAS” (2019), de Céline Sciamma

A fixação em uma pessoa em nome da arte, que se transpõe para além da tela e conecta dois corações apaixonados numa ilha distante, que mesmo separados seguem ainda conectados pela arte ao longo dos anos, no segredo que ambas compartilham.

Sciamma realiza um épico de amor lésbico avassalador, onde toda a composição de fotografia e acessórios de arte dialogam com a narrativa e com o trabalho fenomenal das duas atrizes, e faz por merecer o status de obra-prima instantânea ao capitanear um ano gigantesco pro cinema mundial.

 

  • 4º lugar: “TRAMA FANTASMA” (2017), de Paul Thomas Anderson

Uma batalha de sexos onde as duas partes costuram – literalmente ou não – sua dominação ao longo de uma relação. Um relacionamento tóxico que se liberta com a composição de elementos tóxicos dentro da rotina do casal, e que revela o elo íntimo que os liga para sempre.

A história flui ao longo da trilha composta de acordes de piano, que se alternam conforme a história evolui, e a câmera intimista de seu diretor, em closes ou enquadramentos que revelam o status da disputa, revela tudo aos seus espectadores ávidos pela consumação do amor exposto na tela.

 

  • 3º lugar: “PARASITA” (2019), de Bong Joon-ho

A luta de classes metaforicamente exposta na relação entre duas famílias, e suas práticas para garantir aquilo que possuem ou tomam de outras pessoas, tais quais insetos ou parasitas atuam em ambientes para sobrevivência, onde agir se sobrepõe a vislumbrar.

O tratado social que Bong Joon-ho nos propõe salta aos olhos ao brincar com as referência de gênero cinematográfico para capturar a total atenção e imersão do espectador, que acaba se identificando de alguma forma com aquelas relações expostas dentro de uma mansão ao topo e ao longo do que sobrevive abaixo dela.

 

  • 2º lugar: “CÓPIA FIEL” (2010), de Abbas Kiarostami

Partir de uma premissa sobre como a análise de uma obra de arte é infligida pela percepção pessoal de quem observa, e caudalosamente a narrativa nos colocar dentro da observação de uma relação antes inexistente e agora revelada com seus detalhes, dentro de nossa própria percepção.

Kiarostami constrói sua análise sobre relacionamentos em cima do debate do quão o observador influencia com o seu olhar aquilo que merece ser observado em determinada obra – no caso, um relacionamento em crise que vai se deteriorando pelas belas ruas de uma pequena cidade italiana.

 

  • 1º lugar: “O MESTRE” (2012), de Paul Thomas Anderson

O cidadão errático que não encontra seu encaixe numa sociedade de costumes, e vê numa seita a oportunidade de ser alguém. Mas instintivamente, se recusa a se abster de sua individualidade de virtudes e defeitos, entrando em confronto com a nova comunidade que escolheu abraçar.

Dos filmes mais equilibrados entre seus elementos técnicos e humanos, que conduzem com sinergia uma análise de comportamentos excêntricos dentro de uma perspectiva de normalidade, seja o aprendiz sociopata que não encontra seu caminho, seja o guru com crises de auto-estima com o papel desenhado a ele, seja a companheira discreta que conduz silenciosamente os pilares de uma pequena comunidade. Obra-prima.