Cadu Moura“Possessão” é um clássico do cinema de horror dirigido pelo cult Andrzej Zulawski, que conta a história de Anna (Isabelle Adjani), que após a volta de Mark (Sam Neill) de uma longa viagem, decide se separar dele, mesmo com todos os esforços de Mark para se dedicar à família. Este descobre que Anna vive uma relação extra-conjugal com Heinrich (Heinz Bennent), e tenta reconquistá-la em vão.
Após semanas em depressão, Mark volta a tentar dissuadir a ex-esposa para voltar ao casamento, e percebe o total abandono que ela deixa o filho deles, e resolve voltar a morar no apartamento deles, forçando Anna a se mudar. Mas mesmo se mudando, ela sempre volta ao apartamento para suas tarefas maternas, cada vez mais perturbada, o que faz Mark contratar um detetive particular para saber o que realmente ocorre.
Zulawski em nenhum momento dá pistas, apenas traz interrogações, e brinca com a percepção arraigada de narrativas hollywoodianas em filmes do mesmo gênero para pregar peças no ótimo roteiro, e sua câmera sempre em movimento, em verdadeiro transe, nos traz ainda mais estranhamento para além da narrativa, onde se Anna parece completamente perdida psicologicamente, seu ex-marido também não parece bem de suas faculdades mentais, pelas atitudes e gestos desesperados para a volta do seu casamento.
Se sairmos da questão literal e formos para o campo metafórico, o filme ganha ainda mais potência. Tudo se passa muito próximo do Muro de Berlim, que pode ser visto da janela do apartamento dos protagonistas. O nome do filme, em inglês, se aplica tanto à questão literal sugerida como também à metafórica, se encararmos que é um filme sobre relacionamentos.
Isabelle Adjani, premiada como melhor atriz no Festival de Cannes em 1981, e Sam Neill dão um show neste filme, principalmente a francesa, que além do talento dramático entrega uma entrega física exasperante e incômoda, convencendo bastante na seu total estado de corpo em disputa, entre o factual e o projetado. Um filme de arte que perturba sem ferir os fãs do gênero do horror, muito menos os admiradores do cinema de Zulaswki.