O novo e mais ambicioso projeto do cineasta James Gray (o mesmo de “Amantes” e “Os Donos da Noite”), “Ad Astra – Rumo às Estrelas” nos traz a história do major Roy McBride (Brad Pitt), um astronauta instrospectivo, frio e metódico, filho da maior referência na área de exploração espacial do Governo, Clifford McBride (Tommy Lee Jones), desaparecido há anos pela órbita de Netuno.
Roy, após sobreviver a um acidente numa antena provocado por uma misteriosa onda energética que ameaça a vida terrestre, é informado que há suspeitas que seu pai ainda está vivo e que seria o responsável por tal incidente – e ele, como seu filho, seria a melhor pessoa indicada a tentar comunicação com ele via estação em Marte, local ainda ativo mais próximo da órbita de Netuno, após o referido incidente energético.
A história a ser contada em si é simples e óbvia no primeiro instante onde o protagonista narra em off aquilo que realmente pensa: trata-se de uma jornada intimista onde seu protagonista busca um auto-entendimento pela busca da real identidade de seu pai ausente.
A busca em si e as questões afetivas entre pai e filho não são novas na filmografia de Gray, e a grande profundidade do protagonista associada a uma excelente interpretação de Brad Pitt são a aposta para deslanchar o comprometimento do espectador com aquele incômodo psicológico do personagem, mas faltou um cuidado proporcional com os personagens que cruzam, acompanham ou seguem o astronauta durante toda a história.
A excessiva concentração nos conflitos do protagonista acabam esvaziando a riqueza das contradições dos ideais de Clifford para suas atitudes, ou o potencial dramático da participação de um antigo amigo de Clifford (interpretado por um saudoso e carismático Donald Sutherland) na jornada de Roy em busca do pai, sendo todas estas questões do passado que deram consequência ao estado sentimental do protagonista durante o filme.
A falta de maior valor dramático aos personagens femininos que são importantes nos problemas do protagonista (a esposa interpretada por Liv Tyler) e nas decisões a serem tomadas para resolver esses conflitos (a cientista interpretada por Ruth Negga), valem ser destacados também neste problema de personagens coadjuvantes muito rasos na história.
O ritmo bem lento da narrativa, associado aos planos amplos e enormes em contraponto à introversão do protagonista ajudam a aumentar o vazio interno exposto nas reflexões em off dele ao longo do filme e de forma cinematográfica mostrar como são longas e profundas as feridas que Roy irá abordar na busca pelo pai ausente – e pelos sentimentos ausentes associados a essa relação fraturada.
A excelência técnica do filme é notável durante toda a projeção, com grande destaque à fotografia belíssima usando bem as cores e sombras nas cenas de espaço, trilha sonora melódica e snetimental, e os efeitos de som excelentes, muito importantes em filmes deste gênero, são os grandes motores para o alavancamento dramático de toda a narrativa, fazendo de “Ad Astra – Rumo às Estrelas” uma experiência tocante e reflexiva, apesar de seus problemas aqui apontados.