Parece que tudo se justifica apenas pela mensagem, que se lembra superficialmente um documentário bem mais focado e direto do ano anterior na mesma Netflix, “Privacidade Hackeada” (2019) pela temática, acaba decepcionando ao propor soluções ao nível “salve a Amazônia abraçando a Lagoa” ou “o problema ambiental é você não abrir tanto a torneira”, e não o modelo sócio-econômico que nos empurra com sua lógica egoista e predatória a todo esse caos, mesmo quando se trata de guiar interações virtuais através de algoritmos sob a lógica comercial.
Obviamente a Netflix não foi incluída na crítica, mesmo sendo a plataforma que criou um modelo de assistir série que mantém o espectador grudado na tela (ou telinha), ou por exercer uma curadoria guiada pelos mesmos algoritmos comerciais, privando a diversidade cultural de se enxergar diversas escolas e momentos do cinema, em detrimento daquilo que interessa a eles nos mostre em troca de publicidade – o que já avança, por exemplo, em sugestões de retiradas de cenas de personagens fumando em uma de suas series, ou editar um documentário brasileiro por sua falha crítica na exposição de um fato de forma ficcionalizada.
Inclusive, se parar para pensar na estética e mise en scene dos documentários da Netflix e como ela aborda os fatos nesses filmes e séries documentais, a ficcionalização, o uso do drama para reforçar pontos, os respiros narrativos com sobrevoos de drones pelos ambientes, a introdução espertinha explodindo a logline do filme na tela até aparecer os créditos iniciais, tudo faz parte do produto Netflix de se diferenciar não popularizando o gênero do documentário para o público, mas manipulando elementos do documentário para ser um produto publicitário mais palpável – e a indústria já reconhece isso com prêmios, logo nao se pode dizer que não funciona, mas também preocupa o uso da arte para manipular ou restringir o acesso a abordagens culturais.