ARAB STRAP “AS DAYS GET DARK” (2021)
8.5Pontuação geral
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5.7

Arab Strap é um duo escocês que tem como integrantes Aidan Moffat e Malcolm Middleton. Atuando desde a década de 90, contam com 9 trabalhos na discografia. O recente disco, As Days Get Dark, chega depois de 16 anos do último álbum lançado, ‘The Last Romance’ (2005). E como toda banda ou músico que passa por um grande hiato em suas atividades, o novo disco, claro, surge cercado de expectativas.

Os gêneros ou estilos abordados pela dupla são bem situados ainda no Folk. Entretanto, assim como bandas que subverteram – no melhor dos sentidos – as raízes ou características do gênero, o Arab Strap extrapola os limites do Folk partindo para novos territórios e ousando buscar novos horizontes sonoros. Adicionando elementos eletrônicos, clássicos ou mesmo do Rock tradicional, Moffat e Middleton criam um disco que muda a cada faixa mesmo que as peculiaridades da dupla continuem firmes e fiéis aos primórdios. 

Existe quem os rotule de Sadcore pelo tom depressivo de algumas letras de suas canções. Arab Strap tem um dom de contar histórias modernas inusitadas para alguns padrões conservadores ou então, de narrar episódios que se encaixam dentro de um mundo que muitas vezes é pervertido, sombrio e deprimente. Pense numa letra bem composta pelo Tindersticks, mas se Stuart Staples tem seu tom romântico e mais introspectivo, Moffat explora um universo que revela sordidez, deboche, sujeiras e o próprio comportamento sádico de muitos seres humanos. Por exemplo, a faixa “Another Clockwork Day”, cantada como um monólogo, narra a trajetória de um viciado em pornografia que sente atração em se masturbar observando o sono da esposa.

Em outras ocasiões, o Arab Strap cutuca o ouvinte para certas e necessárias verdades. Criticam, de forma inteligente, formas de preconceito que rondam o mundo. Muito do que se ouve também precisa da dedução e da cognição do ouvinte. “Fable Of The Urban Fox” tem um aspecto de fábula moderna e traz a história de duas raposas que tentam ser felizes num novo habitat. Porém, com desfecho trágico e cruel, nos alerta para a xenofobia que nos cerca e suas consequências impiedosas.

Embora pesado para muitos que pretendem se aventurar pela primeira vez na sonoridade do duo, ‘As Days Get Dark’ é um trabalho requintado do Arab Strap. Seja nos arranjos das 11 faixas bem organizadas e produzidas, seja na segurança de Moffat em retratar suas narrativas comuns e incomuns com o devido respeito de ser um dos melhores crooners da atualidade. 

As faixas mudam constantemente. Calmaria que abre espaço para um instrumental mais urgente, transição de gêneros dentro da própria canção, a variedade ampla dos instrumentos (gaita, sopros, cordas, pianos, sintetizadores). A batida inicial de “Kebabylon” junto a uma guitarra dedilhada poderia ser mais uma faixa comum do Indie Rock, não fosse um tom mais jazzístico que a canção vai entregando durante a audição. A sombria “Here Comes Comus” traz guitarra e baixo poderosos e acaba resvalando para o Goth-rock 80’s, certamente uma das faixas mais pesadas do álbum.

A simpática “Bluebird” traz um Folk que preza tanto por elementos acústicos como por batidas sutis de eletrônica. Violinos se juntam a guitarras marcantes em “I Was Once A Weak Man” e um refrão que ganha mais intensidade com os vocais de Moffat surge triunfalmente. “Sleeper” abusa dos sopros e apesar de soar claustrofóbica, mostra um instrumental que cresce em conjunto com as letras, embora o refrão chegue numa névoa de calmaria.

‘As Days Get Dark’ é um álbum que acaba reunindo de forma compacta aquilo que mais esperamos da música: letras inspiradas, arranjos estruturados, melodias convincentes, contextualização com o panorama mundial, poder de capturar ao máximo a atenção do ouvinte. Mesmo dentro de certa complexidade e da estranheza de algumas letras, estamos diante de uma duo que observa e retrata o mundo no qual está inserido, por vezes um lugar amargo, caótico e perigoso, repleto de histórias surreais, mas que esconde lá no fundo uma beleza da qual ainda é possível compartilhar e vivenciar.