James Wan traz com seu cinema muito respeito às instituições narrativas que os gêneros cinematográficos trazem ao longo do tempo, e aqui em “Maligno” (2021) ele nos traz uma reverência marcante ao gênero slasher, mais especificamente ao giallo com suas marcas e elementos que reforcem a encenação exagerada que envolvam mortes e clima de terror através das cores, da trilha sonora, da violência explícita e exagerada.
Para além disso Wan traz também no filme um pouco do terror psicológico e sabe conduzir isso muito bem em consonância com a descrição acima, através das complexidades que envolve sua protagonista, uma mulher que é claramente vítima de assédios pela sua história de vida e passa a ser testemunha de assassinatos horrendos de uma figura um tanto mística chamada Gabriel, que acaba mudando sua vida por completo.
As simbologias do filme não se resumem às referências cinematográficas espalhadas ao longo do filme (de clássicos como “Os Olhos Sem |Rosto” (1960), de Franju, ou “Irmãs Diabólicas” (1972), de De Palma, ou mesmo clássicos gore como “Enigma de Outro Mundo” (1980), de Carpenter), e aí vemos também o cuidado de tratar as tomadas de cenas pelo seu aspecto geográfico, seja de tomadas aéreas na casa da personagem principal ou em cenas de perseguição na cidade, ou usar bem os personagens clichês de narrativas tradicionais e genéricas de filmes hollywoodianos até mesmo de outros gêneros em forma de instrumento para total quebra dessas expectativas.
Acaba que o conjunto da obra acaba trazendo ao espectador diversão extrema usando dos melhores elementos possíveis de entretenimento para evoluir a tensão, o medo e as catarses sanguinolentas ao longo da narrativa, e reservando algumas cenas que merecem o panteão dos filmes slasher, em especial no seu último ato onde Wan assina seu amor condicional ao cinema trazendo a violência como canal de libertação de emoções reprimidas de sua personagem, e fechando toda a questão de evolução interna de sua protagonista aos extremos que o cinema fantástico no permite.