Nota da Hybrido
8.5Pontuação geral
Votação do leitor 2 Votos
9.3

A série “Ozark”, que estreou em 2017 na Netflix e se encerrou agora em maio, surgiu na esteira do gênero policial que ficou bastante popularizado após o estrondoso sucesso da saga de Walter White em “Breaking Bad”, e a produtora trouxe em sua esteira mais uma vertente do crime investida na lavagem de dinheiro e envolvendo o cartel mexicano, o nemesis da moda neste perfil de obra neste século.

O tom sombrio e o ritmo que busca sempre o limite da palpitação do espectador com as situações sufocantes que o casal protagonista, Marty e Wendy Byrde (Jason Bateman e Laura Linney) seguem o mesmo padrão a cada temporada, como um verdadeiro instrumento narrativo para prender o espectador na maratona, com o plus do aprofundamento dramático constante de cada um desses personagens individualmente.

Analisando a série toda após sua finalização, percebe-se que trata-se de uma exposição de uma tese onde reside o verdadeiro american way of life que ninguém mostra, e que provavelmente pode ou não ter forjado a trajetória de vários antecessores do casal ao longo da história dos EUA, ou seja, os grandes detentores de poder e riqueza que ditam os rumos do mundo na política e economia enquanto sociedade forjada no ultracapitalismo.

Podemos enxergar, sem a ótica do absurdo (algo que a série também impõe nos seus momentos de climax, que pode afastar os mais céticos, mas que se justifica pensando na série toda enquanto arco dramático imposto pela encenação proposta), que muitas decisões tomadas no limite tanto por Marty ou Wendy, mesmo com finalidades bem distintas pela personalidade de cada um, seja Marty na objetividade de diluição de riscos prováveis e limitações de se impor nas relações como um todo, seja Wendy mais no campo de enxergar aquele absurdo como um projeto de ascensão que tanto almejava em sua sociopatia amparada pelo seu passado abusivo com o pai.

Ao longo da série o casal se depara com vários perfis da sociedade americana, todos dilacerados pelo rastro do que eles realizam em nome da própria sobrevivência imediata, mas também na oportunidade de navegar aquele mar de sangue, mentiras e dinheiro sujo em nome de uma “compensação” por aquilo tudo. E o bom contraponto de Ruth (Julia Garner), a trambiqueira-aprendiz que busca um caminho solo no empreendedorismo e um encaixe naquela sociedade que não a aceita por suas origens. A maldição da sua família nada mais é do que aquela sociedade impõe aos menos assistidos, e o desfecho é bem claro quanto a isso.

Talvez o desfecho propriamente dito, seco e um tanto pragmático enquanto propulsor da mensagem da obra toda, não encaixe com o modus operandi da narração ter sido apoiada no absurdismo de soluções que deram sequência à série ao longo dos anos, mas “Ozark” traz um conteúdo bom para os que buscam entretenimento que envolva crime, personagens condenáveis e uma boa dose de adrenalina.