Onde ver: Netflix
7Nota da Hybrido
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Assim como nos filmes, as minisséries que constroem panoramas sócio-econômicos de um determinado contexto ou região através de uma narrativa multi-facetada em diversos e ecléticos personagens acaba sendo um convite para conhecer boas ou más narrativas, dados os desafios de cruzar arcos dramáticos e que tudo ali funcione sinergicamente e dentro de uma linguagem cinematográfica coordenada e equilibrada.

Nas séries e minisséries, isso costuma ser regido pelo showrunner, no caso o criador da série que assume a tarefa da coordenação narrativa e da produção, e no caso desta “Collateral” ficou a cargo do roteirista David Hare, mais conhecido aqui pelos seus trabalhos indicados ao Oscar no cinema, em “As Horas” (2002) e “O Leitor” (2008), ambos os filmes dirigidos por Stephen Daldry.

Aqui a história cerca o assassinato de um jovem entregador de pizzas iraquiano num bairro nobre de Londres, e o comando das investigações recai sobre a detetive gestante Kip Glaspie (Carey Mulligan), e que demanda muitas pontas soltas sobre os incidentes que levaram a vítima estar ali naquele local com um assassino à sua espera. Porém, essa história é apenas um condutor para o espectador observar o espectro maior do problema na Inglaterra, através dos diversos personagens que vão surgindo na misteriosa trama.

Imigração, desigualdade, política interna, burocracia, tudo acaba transparecendo aos poucos nesta obra de quatro capítulos, e Hare consegue deixar o espectador minimamente antenado a tudo e inserindo aqui e ali críticas pertinentes à conjuntura política e social na Inglaterra. Porém, mesmo com a direção de todos os episódios sendo conduzidos pela diretora S.J. Clarkson, pouco se absorve de estética dentro daquele universo para além do básico das séries inglesas de investigação.

Alguns núcleos dramáticos também não acompanham o ritmo da trama e acabam sem muito sentido, como o da ex-mulher viciada do vereador ideológico, ou a interessante questão da relação lésbica entre uma ministra de uma paróquia e uma imigrante vietnamita que é muito pouco abordada frente ao resto. A protagonista interpretada por Mulligan possui um passado ligado ao esporte olímpico que talvez seja mencionado apenas para justificar toda a dedicação dela em alcançar a solução do crime, mas que poderia também ser melhor desenvolvido para desenvolver uma maior aproximação do espectador a ela, que literalmente os conduz perante toda a minissérie.

Mas no todo a minissérie mostra bem o cenário que acontecia no Reino Unido momentos antes da vitória conservadora nas eleições para Primeiro Ministro por lá, e bons conflitos envolvendo principalmente questões internas dentro do exército inglês envolvendo traumas da guerra ao terror e o papel das agências de espionagem na retroalimentação deste universo de conspirações, paranóias e medo.