O diretor coreano Park Chan-wook voltou aos holofotes ao vencer o prêmio de melhor diretor no Festival de Cannes por seu novo filme, “Decisão de Partir” (filme também indicado à Palma de Ouro), que nos traz um policial meticuloso e insone que, ao investigar a morte de um alpinista, se vê envolvido pela principal suspeita pelo crime, a viúva do falecido.
A trama em si nos apresenta os elementos de um neo-noir, mas Chan-wook qualifica imageticamente as nuances desta controvertida relação de tensão sexual estabelecida entre o detetive e a principal suspeita, e aos poucos deixa essa relação mais e mais profunda e intrincada, o que é reforçado com a elipse temporal onde ambos se reencontram em uma cidade menor.
Ambos os protagonistas são muito bem desenvolvidos tant textualmente quanto cinematograficamente nos pequenos detalhes, que são valorizados pelos bons personagens coadjuvantes que complementam muito bem o estabelecimento das peculiaridades da relação dos protagonistas consigo mesmos e um com o outro.
Toda a encenação é minuciosamente farsesca e convincente dentro da proposta de Chan-wook de trazer uma cosmologia que brinca muito bem com a edição de som, a fotografia que usa e abusa de reflexos e espelhamentos, e toda uma aura de suspense e leveza associados que o cineasta consegue equilibrar em seu ótimo filme.