Lilianna BernarttRui (Ryûsei Yokohama) é um ex-lutador famoso de kickboxing, que arruma um emprego de vigia de estacionamento após cumprir tempo na prisão por envolvimento com a máfia japonesa. Em sua primeira noite de trabalho, ele conhece Akari (Yokuro Yoshitaka), uma jovem cega que tinha o costume de assistir novelas com o antigo vigia do estacionamento. Os dois se conhecem e a sintonia é tão grande que decidem manter a rotina das novelas. Assim como em uma novela, os dois logo descobrem que suas vidas estão ligadas além do casual encontro no estacionamento.
Essa é a sinopse do drama japonês “Seus Olhos dizem”, que é uma refilmagem do longa metragem sul-coreano “Só Você” (O-jik geu-dae-man / Always), de 2011 e dirigido por Takahiro Miki.
É justamente a partir da sinopse que o filme se desmembra em diversas camadas, que vão sendo apresentadas no desenvolvimento da trama. Há uma conexão extremamente forte entre as duas personagens, a medida em que o passado de ambas está interligado a uma ocorrência dramática que – da mesma forma que impacta os dois, fazendo com que sigam direções opostas – acaba por uní-los novamente.
Ambas as personagens lidam com traumas do passado, porém, de formas opostas. Enquanto Rui decide se fechar para a vida, se punindo através de um estilo de vida low profile; Akari, por sua vez, encara toda a situação com otimismo, ainda que isso não minimize sua melancolia. Tais características opostas são o cerne da complementação das personagens.
O filme trabalha de forma constante e interessante essa inversão de papéis entre os protagonistas e suas relações com o mundo exterior e poderia facilmente cair em um melodrama novelístico da melhor qualidade, mas se mantém sóbrio ao desenvolver a trama com leveza e não deixar a obviedade assumir o protagonismo, através de personagens solidamente construídas e – não podemos deixar de citar – extremamente carismáticas, o que colabora para que o espectador adentre na trama sem menores esforços.
Em resumo, o filme trata de questões relevantes de forma leve e fluida. De fato, cinema japonês de boa qualidade. Vale a pena conferir.