A história começa com a combustão instantânea decorrente do encontro de duas forças da natureza – Georges (Romain Duris) e Camille (vivida pela ótima Virginie Efira). Sob o olhar desconfiado do espectador, eles desenvolvem – à sua maneira – um relacionamento duradouro. O filme tem uma passagem de tempo em que acompanhamos o casal com seu filho, vivendo em um apartamento na França. A rotina do casal, fomentada por festas diárias, bebidas e uma pilha de boletos ainda lacrados traduz a voracidade do relacionamento.
Com o tempo, Camille começa a apresentar comportamentos fora da realidade. O que de início é levado com graça, diante do ambiente livre e despudorado semeado pelo casal, rapidamente evolui para o diagnóstico e agravamento de uma doença psíquica de Camille, o que força a família a lidar com a realidade de forma implacável.
Em meio ao retrato de protocolos médicos duvidosos e agressivos, costumeiros à época, o filme se propõe a discutir o limiar entre a loucura e a liberdade – tanto individual quanto social – questionando o ato transgressor de se agir contra as convenções sociais e a loucura decorrente da perda da autonomia de consciência e autopreservação. Sendo assim, o filme promove a liberdade romântica em todos os aspectos da vida, mas faz questão de sentenciar que há um preço a ser pago pelo usufruto disso.
Em meio a esse ambiente colapsado, nos atentamos ao filho do casal, que tem de absorver uma maturidade que não foi herdada, mas que lhe é forçosamente introjetada pelas circunstâncias, ao presenciar graves ataques de descontrole de sua mãe e a fragilidade de seu pai diante da situação. Apesar de todo o cenário desfavorável, o filme deixa claro que há uma unidade familiar constituída no amor, mas que a força motora dessa família é o casal central e a conexão de ambos – impassível a realidade.
Destaque para a fotografia, que acompanha de forma fluida e coadjuvante as oscilações da narrativa e para a trilha sonora, parte atuante na história e mais representativa impossível. “Mr. Bojangles”, a música preferida do casal, é uma canção que, em resumo, fala sobre um homem que permanece dançando e rindo, apesar da dureza da realidade da vida.
“Esperando Bojangles”, poderia facilmente se restringir a ser uma história de um amor imaturo, inconsequente, com cores Shakesperianas, mas amplia a paleta de cores ao focar no livre arbítrio das personagens quanto às escolhas e às suas atitudes diante das consequências das mesmas. No fim, é um filme sobre o amor – em sua forma pura e primitiva – que resiste e se mantém diante do imprevisível.
Destaque no Festival Varilux de cinema 2022, o filme faz sua estreia nos cinemas dia 27 de outubro.
Esperando Bojangles – Trailer legendado [HD]
Esperando Bojangles | En attendant Bojangles Camille e Georges dançam todas as noites ao som de sua música favorita, Mr Bojangles. Em sua casa, só há espaço para diversão, fantasia e amigos. Até que um dia Camille, uma mulher hipnotizante e imprevisível, desce mais fundo em sua própria mente, e Georges e seu filho Gary precisam mantê-la segura.