ENTRE MULHERES, de Sarah Polley
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Aceitar, lutar ou partir. São escolhas diárias que fazemos em nossas vidas.

No longa “Entre Mulheres”, tais escolhas são determinantes para a perpetuação da existência de mulheres de uma colônia religiosa, que são constante e inevitavelmente dopadas e abusadas. A verdade compactuada por todas é oprimida e silenciada pelos homens do vilarejo por anos, sob justificativas religiosas e fantasiosas.

Um dia um dos abusadores é capturado e os fatos são escancarados sem volta. Tomadas pela revolta, as mulheres reagem e os homens são finalmente enviados à prisão, mas a ala masculina da colônia se reúne para libertar os seus, deixando às mulheres a “opção” de se reunirem para perdoá-los, sob o risco de serem banidas das portas dos céus. Desta forma, elas organizam um plebiscito para decidirem seus futuros: ficar e perdoar os abusadores; ficar e lutar  para tornar a colônia um local seguro; ou por fim, partir.

A aceitação já não é uma opção, de forma que as opções se reduzem para ficar e lutar ou partir, lembrando que a fuga está condicionada à perda de todas suas crenças.

 

“A única certeza é a incerteza, não importa onde estivermos”.

 

O filme provoca discussões amplas sobre a potência, individual e coletiva, do feminino e sua opressão sob a égide do patriarcado.

A cada enumeração de prós e contras feito pelas mulheres, novas histórias e cenários surgem. O discurso analisa de forma crua e sincera as consequências da opressão machista. Os homens sequer aparecem no filme, não vemos uma cena de estupro. Não é preciso.

A fotografia escura e a câmera centrada em um cenário reduzido realçam o ambiente opressivo do qual buscam essas mulheres se libertar. Inclusive, a monotonia fotográfica evidencia a tensão desta análise comportamental fragmentada, que busca por uma sororidade cuja falta é corajosamente reconhecida.

Abro um parênteses para o roteiro que, ao ambientar a história em uma colônia isolada em meio aos avanços tecnológicos e civilizatórios dos anos 2010, reverbera simbólica e implicitamente a atualidade do isolamento e opressão femininos, de forma que o “partir” para estas mulheres, não tem a unilateralidade da fuga física, mas sim a quebra de um regime másculo hegemônico, em prol da liberdade e autonomia femininas.

Em tempos em que ainda temos que de lidar com a objetificação de nossos corpos, silenciamento pela justiça, julgamentos quanto à quantidade, qualidade, forma e circunstâncias de nossos relacionamentos pessoais e sexuais, a verdade assustadora que o longa nos mostra é que, independente do cenário, nós mulheres ainda permanecemos em constante estado de luta por nossa preservação e desenvolvimento, de forma que lutar ou partir são escolhas que todas nós temos de fazer diariamente.

O filme ainda aumenta seus créditos por conta do elenco, que traz atrizes potentes em diferentes registros, como é o caso da sutileza de Rooney Mara e a força de Claire Foy, dois exemplos que surpreendem. De quebra, ainda temos Frances Mcdormand, que dispensa falas ou apresentações e também figura como a produtora do filme.

Um filme abre o espaço para a fala feminina, do qual certamente devemos e permaneceremos falando sobre.

Entre Mulheres – Trailer Oficial

Ficar e lutar, ou partir. Elas não têm outra saída. Da diretora @RealSarahPolley, assista ao trailer oficial de #EntreMulheresFilme estrelado por Rooney Mara, Claire Foy, Jessie Buckley, Judith Ivey, Ben Whishaw e Frances McDormand. Em 2010, as mulheres de uma comunidade religiosa isolada lutam para conciliar sua realidade e sua fé.