No filme acompanhamos Sérgio (Marco Ricca), arquiteto e herdeiro de uma renomada Construtora em Recife. Somos apresentados a ele enquanto negocia a incorporação de casas de famílias humildes para construção de seu grande empreendimento imobiliário.
De início, o filme já se posiciona acerca da agressividade capitalista, que precifica sentimentos e histórias em prol da produtividade, expansão e domínio geográfico. Nessa seara, o filme trata da disparidade social em que pessoas mais humildes são constantemente consumidas pelo sistema.
Entretanto, mesmo diante da personificação do capitalismo selvagem, que devasta e se apropria de tudo e todos, Sérgio é a figura patética da frustração de um patriarcado introjetado, preso em uma vida infeliz, resultante da abstenção de um potencial genuíno em prol de vontades alheias.
A personagem de Marco Ricca é um protótipo de seu pai, figura empoderada que, por sua vez, se encontra moribundo, sedado em um leito de hospital. A fragilidade desta figura modelo deflagra uma crise interna em Sérgio, que passa a questionar suas escolhas e buscar sua autonomia existencial.
Um dos grandes trunfos do roteiro de Lordello é justamente a complexidade de emoções que conduzem a personagem de Marco Ricca, um ser aprisionado que busca a validação e individualização de sua trajetória, se utilizando para tanto, dos escassos recursos sentimentais que possui. Em constante ebulição, sua erupção é repetidamente frustrada, seja por engarrafamentos no trânsito, pessoas que se recusam a vender suas casas para que seu projeto avance ou ainda, a negativa do irmão quanto a aprovação de seu projeto. Quanto a este ponto, o filme aborda a questão sucessória que segue a linha monárquica na qual, independente dos esforços e/ou aptidões, a posição de comando é assumida pelo primogênito. Nesse sentido, reforça a instituição patriarcal e suas consequências implacáveis a todos os envolvidos. A viúva, já absorvida pelos mecanismos do sistema, assume sua posição de matriarca neste clã e conspira para que os bens do espólio tenham seu destino friamente manipulado e determinado.
Diante deste cenário passivo-agressivo, o protagonista tenta quebrar o ciclo egóico da manutenção da própria existência buscando por uma conexão íntima e próxima com seu filho, que apesar das tentativas, não se concretiza diante da estrutura limítrofe de Sérgio.
Outro ponto que merece destaque no roteiro é o olhar de Lordello sobre o feminino, retratado como o modelo da força e oposição faltantes ao protagonista. A matriarca que integra o sistema se opõe às demais mulheres do filme, que concretizam a ruptura com esse sistema impositivo. São fortes, decididas e detentoras da autonomia sobre suas vidas.
Por fim, através da lenta e complexa desestruturação de uma personagem, o filme retrata a infelicidade de uma burguesia oriunda de um sistema capitalista cuja força motora é o autoflagelo.
PATERNO TRAILER
Paterno trailer Prod: Trincheira Filmes Direção: Marcelo Lordello