Onde ver: Netflix
8Nota da Hybrido
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9.4

Há três anos um suicídio chocou os Estados Unidos: um astro no New England Patriots – franquia milionária do futebol americano – se enforcou na prisão. Condenado à prisão perpétua pelo assassinato de seu concunhado, Odin Lloyd, e absolvido da acusação de assassinar friamente dois outros homens na saída de casa noturna, Aaron Hernandez se suicidou em 19 de abril de 2017.

O comportamento agressivo de muitos astros nos esportes americanos não é nenhuma novidade assim como o tratamento especial que atletas problemáticos recebem de suas universidades, franquias esportivas e, por vezes, da própria imprensa e da justiça. Um dos casos mais marcantes foi o de O.J. Simpson que movimentou audiências de todo o planeta, foi retratado em mais de um documentário e virou uma série de sucesso na FOX.

Ciente do apelo do tema, a Netflix lançou ontem a série documental A Mente do Assassino: Aaron Hernandez. Dividida em três episódios, a série analisa em detalhes a vida de Hernandez, da infância ao estrelato no futebol universitário, sua entrada na NFL e as escolhas que o transformaram em um criminoso condenado.

A série opta por não seguir uma narrativa linear. Partindo do assassinato de Odin Lloyd, a história de Aaron passa a ser revelada aos poucos, em idas e vindas no tempo para tentar elucidar os aspectos de sua personalidade que, influenciados por seus traumas de infância e conflitos familiares, poderiam ter dado origem ao seu inexplicável comportamento violento.

De forma objetiva – ainda que delicada – aborda a sexualidade reprimida do adolescente e do atleta frente ao ambiente masculino e homofóbico do esporte. Também entra na seara dos sentimento de onipotência oriundo de denúncias que não são levadas a cabo. Por fim somos conduzidos aos efeitos da Encefalopatia Traumática Crônica – mais conhecida por sua sigla em inglês, CTE – uma doença degenerativa do cérebro, que foi constatada posteriormente à morte de Aaron e é comumente relacionada aos traumas físicos e concussões que os atletas sofrem no decorrer da carreira. E aqui os depoimentos nos levam a questionar a relação de causa e efeito entre as escolhas de Aaron e a doença que, apesar de ter sido precocemente adquirida, só foi diagnosticada em sua autópsia.

Como todo bom documentário, A Mente do Assassino: Aaron Hernandez conta com uma vasta gama de entrevistados como os amigos, ex-colegas de time do colégio, jogadores, astros do esporte e repórteres, com cenas reais dos seus dois julgamentos e até com uma intrigante tentativa de revelar a mente de Aaron através de suas própria voz, nas ligações que ele fazia da prisão para parentes e amigos.

O objetivo é responder uma pergunta nada fácil: como encarar o fato de que alguém que você viu crescer ao longo dos anos e passou a admirar tornou-se um assassino? O que acontece na mente de um jovem que representa o próprio sonho americano, tem uma vida perfeita, se mostra um pai carinhoso, companheiro, amigo leal, alcança o sucesso incluindo uma bela participação no Super Bowl, e que o leva a tomar decisões tão erradas?

A obra se esforça para responder estas perguntas, que talvez nem tenham respostas, e o faz de forma deveras intrigante – considerando que os fatos ainda não estão tão distantes – mas com certeza é uma tentativa honesta de tentar cobrir toda a complexidade dos fatos e o impacto em todas as vidas envolvidas.