Onde ver: Amazon Prime Vídeo
9Nota da Hybrido
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9.1

Em tempos de constante (auto)policiamento pelo politicamente correto, Fleabag (sem tradução exata para o português seria algo entre “pulgueiro”, “sarjeta” e “vira-lata”) arrebata nossa empatia com um diálogo direto e honesto, repleto de sarcasmo, sagacidade e de um eterno questionamento presente no cotidiano da mulher de uma grande metrópole.

A série produzida pela Amazon Prime e pela BBC não tem nada muito elaborado em termos de cenários e locações, coerente com a vida da protagonista: uma mulher de 30 e poucos anos, lutando para manter funcionando o seu pequeno negócio enquanto ainda chora o luto pela morte de sua sócia e melhor amiga.

No entanto, o que poderia faltar em recursos visuais, sobra em roteiro e direção. Trata-se de uma história ordinária porém muito, muito bem contada. E, como os episódios não chegam a ter 30 minutos cada, a excelente edição acaba por ditar o ritmo ideal para que nada fique de fora e ainda assim queiramos assistir mais.

Phoebe Waller-Bridge – criadora, roteirista e protagonista da série – não tem medo de mostrar uma mulher cheia de defeitos, muitas vezes deprimida com as frustrações da vida, o luto recente e sua família que a consome à exaustão: a mãe morreu com câncer de mama, sua irmã é bem sucedida e superperfeita em tudo o que faz e sua madrasta é deliciosamente irritante (personificada pela maravilhosa Olivia Colman).

Sua única certeza é o auge de sua sexualidade. Fleabag é uma feminista da vida real, uma anti-heroína da sororidade e do empoderamento, com anseios, desejos, culpa e medo da solidão. Ela acerta e erra nas decisões e chega a nos irritar, como aquela nossa amiga com quem temos intimidade para dar uns cascudos de vez em quando.

Escrita para ser uma minissérie de seis episódios apenas – uma adaptação do monólogo homônimo original – em 2016, Fleabag acabou ganhando uma segunda temporada que estreou no Brasil, via Amazon Prime, em março deste ano. Nesta temporada, Fleabag precisa lidar com os esqueletos que escondeu no armário ao mesmo tempo que é provocada pelo inusitado.

A comédia cede espaço ao drama (mas não muito, afinal o humor inglês é desses que nos faz rir até quando não queremos) e nos pegamos mais uma vez dando ouvidos às confissões da nossa anti-heroína. Phoebe Waller-Bridge disse ter “colocado a personagem na cama” (referindo-se ao fim da série) durante uma entrevista de lançamento, mas deixou no ar que pode ser surpreendida mais uma vez e acabar escrevendo uma terceira temporada. Sim, pode até não parecer, mas tem gancho para isso.