Onde ver: Paramount Channel e, em breve, no GloboPlay
8Nota da Hybrido
Votação do leitor 9 Votos
8.9

A formidável, pesada e urgente “The Handmaid´s Tale” segue firme em seu terceiro ano. Mantém  o tom forte sobre sua temática da ditadura teocrática fundamentalista. Tal ditadura utópica que salvaria o globo, mas esta terceira temporada derrapa no desenvolvimento narrativo até chegar a uma conclusão maravilhosa, o que salvou esta fase.

O primeiro – e fenomenal – ano da série traduz perfeitamente a alma do livro da canadense Margaret Atwood. O Livro é de 1985. Neste terceiro ato, Atwood tem o mesmo trabalho que teve no segundo ano: apenas fiscalizar e acompanhar, como uma espécie de dirigente. A falta de um texto forte para o segundo e o terceiro ano deixaram a série um pouco mais fraca. Vale dizer que não haveria como se fazer uma comparação com o material extraordinário da primeira temporada.

Sim, June continua sofrendo absurdos. A personagem – ambiguamente abusada – de Elizabeth Moss já esteve melhor na série. Já brilhou mais. Já foi mais aclamada. Desta vez, senti-me aflito com as expressões de Moss não mais tão versáteis como nos anos anteriores. Ela veio num tom apenas.

Operando com a repetida face de desprezo e praticamente sem vida por inúmeras vezes no desenrolar deste terceiro ano, mas desta vez sem chegar a algum horizonte plausível. Entendível. Afinal a carga emocional que June carrega é gigante. Mas desta vez, Moss ficou no famoso e pífio “mais do mesmo”.

A série segue os eventos que se desenrolaram no final do segundo ano, quando June – por fim – conseguiu arduamente tirar sua filha recém-nascida Nichole (fruto do sistema no qual ela está inserida) daquele pesadelo de Estado chamado Gilead. June contou com a ajuda da importante família Lawrence – liderada pelo ótimo Bradley Whitford.

No entanto, June titubeou e não foi embora. Fincou os pés com intuito único de resgatar sua outra filha: Hannah Bankole. Gilead permanece com seu design de produção impecável. Tecnicamente a série é uma nota 10 daquelas com louvor. As cores lavadas distópicas, o uso extravagante apenas do vermelho simbolizando a feminilidade e a violência em questão e – claro – o mimetismo apurado do criador e escritor Bruce Miller nos inserem naquele sufoco imensurável da indizível autocracia religiosa.

Os textos do episódio 8 e 9 são o vulgar exemplo de “barriga narrativa”. Há um engodo interminável que afasta o telespectador do principal: a fuga dali, a revolução das martas junto às aias e o combate contra os chefes das Casas. Joseph Fiennes, o sempre calculista, gélido e fanático Fred Waterford – ótimo no ano 1 e 2 – aqui é prejudicado pelo texto e há momentos em que ele está realmente afastado da trama: exemplo da queda absurda de qualidade narrativa.

Tais episódios citados enfatizam histórias que poderiam estar de fato longe da trama. Sem necessidade. Num, vemos a personagem de tia Lydia, a sempre forte e excelente Ann Dowd, refletindo sua vida e seus relacionamentos antes de Gilead. E noutro, mais enfadonho ainda, temos June confinada num hospital, ajoelhada praticamente o episódio inteiro, testando seu companheirismo e sua sanidade desgastada sem um rumo objetivo.

RETOMADA DE QUALIDADE

Destaque nesta temporada para o ator Christopher Meloni, que dá vida ao corrosivo e cruel chefe de família George Winslow. Inclusive, é por meio de ações de seu ótimo personagem que
a série se eleva numa maestria digna do ano 1. Tais eventos podem ser considerados o maior plot twist (virada narrativa) deste ano. Lástima ter sido tardio. Apenas os 3 últimos episódios são magistrais. São “Handmaid’s Tale” total.

Neste final, a série retoma o tema forte. O áspero tema que a sustenta desde seu primeiro minuto no ar: maternidade e sobrevivência. Volta a violência, o abuso, a saudade e a falta sem tamanho que June sente por Hannah, voltam as ideias mirabolantes que nos prendem à tela. E nesta reta, temos uma Yvonne Strahovski – a Serena Waterford – firme e incrível como deveria ter sido por toda temporada. O texto também a afastou. O envolvimento dela com Elizabeth Moss e o desfecho arquitetônico da série reserva lágrima. A conclusão foi de certa maravilhosa.
Emoções dignas do peso do show.

A rede de streaming Hulu já garantiu a 4a temporada de June e companhia para o ano que vem. Mais sufoco. Espero que Bruce Miller possa começar a encaminhar bem o desfecho da série.