"Hustle - Arremessando alto" (2022), de Jeremiah Zagar
8Pontuação geral
Votação do leitor 2 Votos
9.5

Onde: Netflix

 

É muito bom poder ver Adam Sandler atuando de maneira voraz, com vontade, como quem leu o roteiro várias vezes. O cara gostou do personagem. Sandler ama o basquete. Faz aqui um sujeito multifacetado, com trejeitos variados. Ele é um pouco egoísta, ingênuo, sincero, aquele que ama ajudar e que domina o esporte e seus bastidores. Digno das melhores (únicas?) atuações de sua carreira: “Embriagado de amor” (2002) e “Joias Brutas” (2019). Vale dizer que nestes dois ele contou com diretores fantásticos extraindo o melhor dele mesmo. O mestre Paul Thomas Anderson, no de 2002, e os irmãos criativos e geniais Safdie, no de 2019.

A produção fica por conta da Happy Madison, do fominha do Adam Sandler, mas também contamos com o brilho de Lebron James, o craque do Los Angeles Lakers. Seguimos Stanley Sugerman, um olheiro da NBA, experiente e meio sem sorte, que desenvolve um esquema certeiro para descobrir jogadores pelo planeta inteiro com chances de serem brilhantes na maior liga de basquete do mundo. Isso consiste em viajar mundo afora mapeando onde estariam tais joias raras. O problema está no retorno à sua sede. Ele encontra arranjos, conspirações e egos – como o do personagem de Ben Foster – que servem de barreiras aos talentos certeiros.

Tais barreiras narcisistas do esporte acabam minando o talento de Bo Cruz (o bom jogador do Utah Jazz Juancho Hernangomez), aqui na obra encontrado nas periferias de Madri e que segue aos Estados Unidos com uma espécie de falsa promessa de um, agora, solitário olheiro Stanley. Eis então um dos grandes desafios do filme. O personagem de Adam Sandler vai bancar sua essência – meio que egoístico de certa forma – batendo de frente com pessoas eivadas de vícios dentro disso que é a máquina do basquete dos EUA. Além de mentir ao jovem atleta.

 

Nas quadras com o bom Adam Sandler

 

A montagem aqui flui. O diretor Jeremiah Zagar conta com um facilitador de sua narrativa de espetáculo: os jogadores profissionais. Brinde ao espectador, que vai se divertir procurando caras famosas de jogadores da maior liga de basquete do planeta. Tendo tais atletas se virando como atores funciona sim neste filme.

O que esperamos deles nas diversas quadras apresentadas na película é alcançado com sucesso. Grandes lances de arremessos, velocidades, superações, treinamentos, dribles, um contra um. E para aqueles que não entendem da liga NBA basta o foco no processo lamurioso e intenso que envolve os personagens de Sandler e Juancho. 

Os vários closes e primeiríssimos planos mostram uma qualidade de Zagar. Extrai o melhor de uma obra batida e bastante vista nas telonas. Às vezes até com êxito: como o fantástico Rocky Balboa. Inevitável a comparação devido à boa execução. A câmera colocada por vezes na cara dramática de Sandler faz com que as estrelas da NBA atuem bem. Destaque para dois momentos específicos em que o diretor em vez de facilitar consegue subverter um gênero tão conhecido.

O tempo que se leva em tela construindo-se uma amizade entre Stanley e Bo é bem aproveitado e necessário para que o espectador compre de verdade este vínculo nascido ali. Porém o tempo usado para filmar o treinamento pode cansar e dispersar o público, expõe repetições de exercícios (que poderiam levar uma tomada apenas), e mostra o famoso “mais do mesmo”. Mas há aqui treinamentos repetitivos e demorados em tela.

Vale citar alguns estrelões do filme: Anthony Edwards (Minnesota Timberwolves), Kyle Lowry (Miami Heat), Trae Young (Atlanta Hawks), Luka Doncic (Dallas Mavericks), Aaron Gordon (Denver Nuggets), Khris Middleton (Milwaukee Bucks), Boban Marjanovic (Dallas Mavericks) e outros.

Como é bom ver Sandler bem num papel em que está à vontade. Não que seja perseguição, mas quando ele se envolve em arquétipos dramáticos, a boa atuação dele é praticamente certeira. Inclusive emula em seu público muitas reflexões de superação. E sinceramente falando, o mesmo não ocorre quando ele faz suas comédias. Que venham mais obras assim com o bom Adam Sandler.