“Beckett” (2021), de Ferdinando Cito Filomarino
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6.6

O novo filme do diretor italiano Ferdinando Cito Filomarino não agrada na ação, seu roteiro é fraco e convencional, além de desperdiçar o grande talento do bom John David Washington (Tenet e Infiltrado na Klan). Aqui ele parece desinteressado pela obra. Atuação é fraca de fato. A premissa é excelente ao expor a fuga de um turista americano envolvido numa sinistra conspiração política situada num território absolutamente desconhecido por ele. Porém Filomarino não sabe explorar a foto e a potencial aventura que tinha em suas mãos.

Temos uma Grécia imersa em problemas políticos (faz tempo já), um cenário maravilhoso, fotografia exuberante, abordagem política análoga a várias sociedades das Américas, mas o roteiro falho e altamente ajudado por elementos narrativos preguiçosos (como a facilidade em que o turista é encontrado por vezes) derruba o ritmo e a montagem do filme, anula qualquer verossimilhança e não nos propõe um debate muito real acerca do notório caos que permeia aquela região.

A obra segue o americano Beckett, que está de férias pela Grécia com sua namorada April. Lá, eles sofrem um violento acidente de trânsito. E ele acaba penetrando profundamente uma conspiração política em meio à recuperação de seu trauma. Durante o acidente, Beckett se lembra de ter visto uma pessoa estranha em meio aos destroços de sua tragédia. Esta vaga memória de um moribundo é suficiente para ele ser perseguido vorazmente por figuras ambíguas em uniformes. Nisso, temos as tais facilitações que fogem da premissa.

Mesmo que tente trazer à luz a interessante história política grega, inclusive mostrando um pouco do que acontece na Grécia de 2021, Filomarino se distancia deste mote com seu texto que nos dissimula e ludibria ao mudar toda a ideia da obra para algo menos elaborado e menos ousado. A discussão proposta não vai a fundo e parece que até David Washington percebe. Seus maneirismos de pessoa altamente debilitada chegam bem longe de passar a emoção verdadeira. E, ao final, aquele pacato romântico virou uma espécie de 007 (mas não estamos em Tenet mais).

Por fim, tendo de novo (claro) a ajuda a americana como pano de fundo (para todo lado), Filomarino até termina bem sua obra. As ações valem o terceiro ato. Mesmo que não críveis. O espectador acaba curtindo sem investimento um filme esquecível que preferiu fugir de um tema forte em seu início para adentrar terrenos mafiosos sem explicações e sem conhecimento até mesmo para o diretor.