Nota da Hybrido
7.4Pontuação geral
Votação do leitor 5 Votos
6.4

A adaptação de um dos maiores clássicos de terror dos anos 80 – que completa 35 anos em
2019 – se encontra não tão repaginada como se esperava. O cult Cemitério Maldito do mestre
Stephen King foi baseado em seu livro de 1983, que rendeu o filme da diretora Mary Lambert
em 1989 (com crítica aqui). Desta vez o filme se apresenta melhor. Aqui é mais ambicioso e
trabalha com maior acerto a aflição do luto nas mãos dos diretores Kevin Kölsch e Dennis
Widmyer.

O filme segue a família Creed de Chicago que se muda para uma pequena cidade no interior
do estado de Maine. Lá para eles tudo é melhor. Vale dizer que muitos dos contos de terror e
suspense de Stephen King se passam sempre pelo seu Maine. King nasceu e mora lá atualmente.
São contos como IT, Os estranhos, A dança da morte e Insônia. Lá nessa nova cidade, a família
se dá conta de que sua aconchegante casa está inserida no território de um cemitério de animais
antigo. Este cemitério leva consigo a lenda maligna de que pode ressuscitar os mortos que ali
fossem enterrados. A trama faz referências a algumas obras de King, como a do cachorro
assassino Cujo e Os vampiros de Salem.

Os diretores Kevin Kölsch e Dennis Widmyer lidam bem com aspectos técnicos. Eles criam
de maneira assertiva a ambientação nada convidativa. Isso se dá pelo bom uso da paleta de cores
frias e sem vida, traduzidas numa tela acinzentada – aquela fumaça conhecida de uma floresta
sombria – aumentando assim a expectativa pelo espanto. A computação gráfica aqui poderia ser
mais comedida a ponto de identificarmos melhor as camadas diversas da floresta. Mas ainda
assim, este cenário se torna mais verossímil quando composto com a ameaça mais matreira aqui
do que em 1989 – como o gato. A criação de tudo que rodeia o cemitério em 2019 e o não abuso
dos “jump scares” me fazem gostar mais desta versão.

Mesmo com a previsibilidade exposta nesse novo filme, devido a atmosfera dos diretores (o
que não torna o roteiro fraco) e também a alguns trailers muito entreguistas, a obra cumpre seu
papel. Cumpre de maneira aceitável. Os diretores contam com um elemento narrativo que
melhora demais o objetivo do terror ali expresso: o elenco. Desta vez – no geral – enxergo um
elenco melhor.

Doutor Creed (Jason Clarke, de A hora mais escura) não é nem de perto meu favorito, mas
transita bem por todas as fases de seu personagem até beirar o caos mental. Caos que –
obviamente – é mais crível no livro. Creed não sabe lidar diante dos eventos que acontecem
com sua família. O conhecido e carismático John Lithgow (The crown), que interpreta o vizinho
Jud, nos faz crer ainda mais nos poderes misteriosos daquele antigo cemitério indígena que hoje
serve a bichinhos de estimação. Rachel Creed (Amy Seimetz, de Alien: Covenant) é o ponto
alto pra mim devido ao que passou na infância e que a deixou em seu limite. Consegue me
assustar bem nas cenas assombradas com a falecida irmã “creepy”. A menina Ellie (Jeté
Laurence, de Boneco de Neve) de fato não me convence muito em seu arco. Prefiro o gatinho
dela: Church.

Há uma considerável e curiosa inversão em relação ao livro e ao filme dos anos 80. Isso nos
prende mais à tela no que diz respeito ao laço familiar forte entre pai e filha. O desfecho do
filme me impressiona. Mas também reflito sobre a aceitação do inexorável: penso em como me
comportaria diante daquela situação. Aquele luto gigante. Os realizadores têm o intuito de
chegar o mais perto de algo palpável. Pra mim, como disse o vizinho Jud, “às vezes morto é
melhor”. O Cemitério Maldito de Kölsch e Widmyer, ainda que acelere a trama no final,
capricha mais que aquele de 30 anos atrás.