“Cobra Kai” (2018) 1ª e 2ª temporada, de Jon Hurwitz.
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9.4

Ainda sem dia certo, chega à Netflix, no princípio de 2021, a terceira temporada da nostálgica série “Cobra Kai”. Nas duas primeiras temporadas, podemos ver os eternos inimigos Daniel LaRusso e Johnny Lawrence protagonizando momentos de puro saudosismo oitentista. Desta vez com um mimetismo assertivo dos dias atuais, aproveitando muito do que se passou no seu material base: o primeiro filme da trilogia de sucesso “Karatê Kid” (1984).

Foram muitos diretores nestes primeiros 20 episódios da série. Episódios curtos (cerca de 30 minutos cada). Apesar de contar com uma ótima montagem, bem concatenada; em alguns confrontos observamos que as coreografias não possuem uma identidade original. Oscilam. Perdem para as já caricatas acrobacias do filme de 1984.

Aqui seguimos um Johnny Lawrence falido, desiludido, destruído de várias formas, sem esperança, em busca de algum turning point em sua vida, numa atuação extremamente segura e surpreendente de William Zabka. A série é dele. Em meio à tentativa de se reerguer como pai e com sua famosa e saudosa academia Cobra Kai, numa extrema dificuldade, a dramaturgia do seriado nos aponta talvez uma das melhores desconstruções sociais de um homem torpe eivado de preconceitos. Ele segue rude e quadrado, mas vai amainando e se desprendendo de algo que o caracterizava como valentão no filme de 84.

Eis que Daniel San surge como uma espécie de vilão não propriamente dito. Mas, no show, ele é o antagonista a Lawrence. Um sujeito arrogante, vaidoso, fútil, que se tornou muito rico vendendo carros. Ao saber das intenções de seu ex-rival, Daniel LaRusso (um bom Ralph Macchio desta vez, não o achava bom no filme) tenta de várias maneiras comprometer a iniciativa da academia Cobra Kai. Vale destacar que a série cresce sempre que aparecem os dois adversários. Curioso dizer que Macchio é aqui mais velho que o senhor Miyagi (Pat Morita em 84) e nos constrói uma interessante espécie de mestre no andar da segunda temporada finalmente criando sua academia.

A inversão de valores e papéis da série é tão marcante que temos uma Cobra Kai formada por muitos “nerds” e não pelos brigões do filme. A desconstrução dos alunos de Johnny Lawrence não acompanha a sua própria formação. De nerd a bully falta atuação. Não foi de fato assertivo. O elenco jovem não é versátil como Zabka, Macchio e outros.

Mas, com uma estética pesadamente oitentista e uma trilha sonora cheia de nostalgia, com referências culturais fortes aos atores e a “Karatê Kid”, a obra resgata toda a magia que nos fez amar tudo que envolvesse essa grande história. A segunda temporada fecha bem a série com uma pancadaria digna de seus mestres.