Nota do autor
7.5Pontuação geral
Votação do leitor 5 Votos
8.5

Onde: Globoplay e Cinemas

O diretor Jeferson De traz às telonas um filme necessário, belo, realista, inclusivo e, que mesmo com suas falhas de roteiro e de edição, tem êxito em sua mensagem e provoca uma discussão muito atual acerca do papel do negro na sociedade intelectual brasileira. Além de fazer com que o povo brasileiro saiba bem quem foi o abolicionista Luis Gama, o diretor nos dá um rumo correto, conforme o sociólogo e professor visitante da Universidade de Nottingham Fábio Mariano Borges grifou, sobre o que seria o lugar de fala e suas origens.

E este filme retrata muito bem o tal lugar. Borges diz que isso acontece “quando posicionamos economicamente, socialmente, politicamente e culturalmente a origem de uma dada narrativa e localizamos a origem e influência das narrativas que chegam até nós”. O cinema de Jeferson De nos permite uma visão mais clara sobre como de fato começou nossa abolição da escravidão. E foi com o escritor, jornalista e advogado Luis Gama.

Aqui acompanhamos o menino Luis Gama, um dos patrimônios tupiniquim. Sujeito negro que nasceu liberto (em meio a uma época conturbada de opressão escravista), mas foi vendido como “mercadoria” aos 10 anos. Acuado, se forçou a ler e a escrever e, então, se tornou advogado e foi defender vários conhecidos oprimidos. Escravos. Foram mais de 500 pretos libertos. Sua absurda inteligência e sua vontade de conhecer e saber sempre mais sobre as leis o fizeram um catedrático do direito. Uma inspiração. Gama era autodidata.

A montagem do filme e a linguagem panfletária não se encaixaram. Quebra o ritmo da película e facilita inclusive nossa percepção do errado. Há frases, que mesmo sendo de agenda propagandistas, deveriam cobrir melhor a imagem, ou a sequência de imagens. Roteiro não ajudava. A atuação de César Mello (Gama adulto) se resta mecânica por vezes. Obviamente, com uma narrativa mais simples, Angelo Fernandes se destaca (Gama criança). O texto melhora absurdamente quando chegamos aos tribunais.

Jeferson De, por fim, nos convida a enxergar melhor como foi a pressão popular pela libertação dos escravos por meio da história do maior abolicionista do país (já aos 29 anos). A princesa Isabel assinou tardiamente tal alforria. E certamente foi influenciada pela pressão dos 500 ou mais dos negros libertos pelo doutor Gama e por parte da sociedade que se juntava à causa. 13 de maio de 1888 era longe demais pra quem já lutava em 1869 nos tribunais da época.