Avaliação Hybrido
10Nota do Autor
Votação do leitor 3 Votos
7.8

“Marte Um” surge como o candidato brasileiro ao próximo Oscar de melhor filme estrangeiro, mas é muito simplista e genérico apenas por qualificá-lo assim. É mais um filme de uma corrente recente e forte do cinema de Minas Gerais muito personalizado no cineasta André Novais Oliveira (mais conhecido pelo filme “Temporada”, disponível na Netflix), que aqui é o produtor do filme dirigido por Gabriel Martins (que junto com Maurilio Martins entregou o ótimo “No Coração do Mundo”, disponível para aluguel nas principais plataformas online).

Em “Marte Um”, Gabriel Martins personifica no sonho distante de Deivinho em ir para Marte quando crescer uma metáfora da longínqua esperança de um Brasil melhor, e que acaba permeando o dia a dia de cada membro de sua família, com destaque para a matriarca, que carrega o problema mais intrigante naquele arco dramático da família negra que carrega a história para a frente, uma espécie de termômetro energético e social ao longo do filme.

O uso dos desafios daquela família enquanto agente social, racial e sentimental com o universo que habitam naquela Bela Horizonte, num contexto nacional próximo da posse de Bolsonaro no poder (que permeia indiretamente a crescente do drama conforme se aproxima sua posse), e que centraliza naquela matriarca o cerne daquela cosmologia que insinua o fantástico para fortalecer sua narrativa cinematográfica um pouco menos realista do que a que Novais Oliveira popularizou – assim como já tinha feito com o gênero policial no seu filme anterior, “No Coração do Mundo”.

A narrativa envolve, entretém e emociona os corações abertos ao cinema principalmente nas situações do menino, entre seu amor à ciência e as imposições do pai via aspirações românticas voltadas pro futebol – imposições que não deixam de ser também um traço romântico e ingênuo daquele patriarca que romantiza as relações e sofre duras consequências de acreditar no ser humano sob sua convicção individualizada que a filha mais velha, logo de plano, busca romper através de sua busca por liberdade sexual em seu relacionamento, além de seu empoderamento enquanto mulher independente fora daquele ambiente fechado na tradicionalidade.

Apesar da abordagem de uma virada de conjuntura política centrado em uma família não ser algo realmente original (como por exemplo “Domingo”, de Fellipe Barbosa disponível no Globoplay), ou usar a inocẽncia da infância para enxergar saída metafórica a uma conjuntura opressiva em escala menor (como “O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias”, de Cao Hamburger, fez em relação ao período da ditadura militar), o filme “Marte Um” acaba sendo um retrato necessário do início da conjuntura de extrema direita e o caso que pretendemos nos livrar ainda em outubro, um sopro de leveza e otimismo que a cena final nos conforta como um frame de afeto.