And the oscar goes to 2023
A edição do 95º Oscar foi de fato uma noite tranquila de premiação, não houve muita surpresa realmente. Como tivemos poucas surpresas, contando com a previsibilidade normal e já esperada, vale destacar talvez uma das maiores surpresas da noite ou a única: Jamie Lee Curtis levou seu troféu. Aos 64 anos, a atriz “badass” de Hollywood foi a vencedora do prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante. Mas não achei ela melhor que Kerry Condon (Banshees de Inesherin) ou que Angela Basset (Pantera Negra: Wakanda Forever). Com seu discurso lindo ganhou o público.
“Pinocchio” confirmou seu favoritismo e “Nada de novo no front” leva incríveis 4 estatuetas para a Alemanha. A belíssima história do menino que está procurando seu lar foi premiada de maneira correta com “O menino, a toupeira, a Raposa e o cavalo”. A Apple investiu pesado nessa animação e, pelo fácil acesso, conseguiu o que queria. Muita gente se encantou com a linda obra. Já a canção Naatu Naatu veio para marcar uma obra que merecia muito mais: “RRR”.
Maquiagem e Figurino também deixaram suas obras mais notáveis: “A Baleia” e “Pantera Negra: Wakanda Forever”. A maquiagem em Brendan Fraser de horas e horas a fio sendo executada é puro cinema. Conseguimos ver a atuação de Brendan Fraser melhorada quando o confundimos com o professor Charlie em meio a tanta maquiagem e próteses. Excelentes efeitos práticos. Ainda houve o prêmio para o polêmico “Navalny”, que naturaliza o fato de se dialogar com nazistas. HBO investiu pesado nesse documentário vencedor do BAFTA.
Michelle Yeoh é uma imigrante chinesa, dona de uma lavanderia que precisa se ajustar com a Receita Federal urgentemente em “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo”. Ela está imersa numa fantasia frenética de vários universos e que, ao mesmo tempo que precisa quitar seus débitos com o governo americano, ela sofre com inúmeros problemas envolvendo a loja, o pai, a filha, o marido, a língua inglesa, sua existência. E sim, ela levou o prêmio de Melhor Atriz. Foi linda a entrega e seu discurso apaixonado pela mãe que vibrava até mais que a filha. Halle Berry, a última atriz não branca a vencer o Oscar lá em 2001, por “A Última Ceia”, subiu ao palco, e quando ela subiu, já poderíamos imaginar a vitória da primeira asiática a levar esse prêmio.
Daniel Kwan e Daniel Scheinert que dirigiram Michelle nesse caos artístico também ganharam como Melhor Diretor. Brendan Fraser, com seu lindo discurso, o cara que estava afastado (mesmo que filmando coisas menores) e que teve problemas com a Academia, conseguiu dar uma linda volta por cima e levou o tão merecido prêmio de Melhor Ator. Emoção fortíssima nessa hora.
Na arte de contar histórias, os irmãos Daniel ficaram com o Melhor Roteiro Original, já a incrível Sarah Polley, levou o seu Oscar de Melhor Roteiro Adaptado, contando uma história de mulheres que querem falar sobre o medo sombrio pelo qual elas passam.
E para concluir, sim, ele levou o sétimo Prêmio da noite, o maior Troféu do evento. “Tudo em todo Lugar ao mesmo tempo” é o Melhor Filme do ano. Um filme que de verdade foi divisivo e que, talvez, a cada novo olhar, pode ir ganhando um carinho maior do fã. Agora, para o fã eventual ou o fã de carteirinha do cinema, não podemos deixar passar um filme que chega ao seu prêmio de número 165 na história. Batendo “Senhor do Aneis: O Retorno do Rei”, que tem 101. Vale o olhar, mesmo que você não curta. E a distribuidora A24 deve estar com um sorriso largo com Brendan e com o maior vencedor da noite.
Uma parte lamentável vale ser grifada aqui: os cortes no microfone para categorias que Oscar acha que podem ser menores é horripilante. A India nunca tinha levado um Oscar na vida. No evento de ontem, conseguiram levar dois: a música de “RRR” e “Como cuidar de um bebê elefante”, o excelente e delicado curta de documentário, que teve um alto investimento por parte da Netflix. Mas, assim que os produtores indianos do curta foram receber seu prêmio, o microfone foi abruptamente cortado num discurso lindo.
Em relação às músicas, quase todas tiveram suas lindas apresentações em alta, destaque para a coreografia de Naatu Naatu e para Lady Gaga – despojada e na vibe de Top Gun – fazendo sua canção original “Hold my hand” para o filme da estrela faltante da noite: Tom Cruise, o Maverick. Mas a canção do queridinho “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo” ficou deslocada, como se a noite não a quisesse. Sem ensaios e sem vibração. O momento em que nos lembramos dos saudosos artistas do meio que nos deixaram recentemente sempre foi tocante, o In Memorian, mas ontem pisaram na bola esquecendo nomes bem marcantes da indústria. Seleção fraca e erros crassos, mesmo que um emocionado John Travolta anunciasse a lembrança já mostrando de cara sua falecida amiga – parceira de “Grease” (1978), Olivia Newton-John. Mas não podiam ter se esquecido da talentosa Charlbi Dean, que nos deixou em agosto de 2022, e que teve seu filme indicado a Melhor Filme – “Triângulo da Tristeza”. Os sempre mafiosos Tony Sirico e Paul Sorvino – “Sopranos” – também foram largados pelo momento, assim como o excelente Tom Sizemore, que nos deixou dias antes do Oscar. E outros.