“LEONOR JAMAIS MORRERÁ”, de Martika Ramirez Escobar, conta a história de Leonor (Sheila Francisco), cineasta e roteirista de filmes de ação de sucesso aposentada que vive com seu filho Rudie (Bong Cabrera), com quem tem uma convivência difícil, em parte por conta da preocupante situação econômica em que se encontram. Ao ver o anúncio sobre um concurso, ela resolve desengavetar e finalizar um antigo roteiro que considera ser sua obra prima e que ficou inacabado por conta de um acidente que levou seu outro filho a óbito. Em meio ao processo de criação, ela é atingida na cabeça por uma televisão e entra em coma. Durante o coma, ela ingressa em sua própria obra cinematográfica, da qual participa ativamente.
A partir deste ponto embarcamos em uma viagem metalinguística no íntimo da imaginação rica da cineasta, na qual ela ajuda seu herói de ação – Ronwaldo (Rocky Salumbides) a vingar a morte de seu irmão e proteger seu amor – Isabella (Rea Molina) das garras do vilão Ricardo.
O universo do filme de Leonor é uma homenagem ao cinema filipino e aos filmes de ação em geral, repleto de referências de figurino, diálogos, cenas de luta coreografadas, efeitos especiais toscos, tudo regido por um conjunto de câmera despretensiosamente trêmula, zooms dramáticos, crossfades, jumpcuts e uma edição repleta de erros propositais de continuidade.
É nesse universo metaficcional – marcado pela incoerência, falta de linearidade narrativa e mescla de realidade e ficção – que vemos as personagens lidando com suas questões existenciais.
Através de Ronwaldo, Leonor lida com a perda trágica do próprio filho, enquanto Rudie, diante do coma da mãe, vai em busca de sua reconexão com ela. É através dessa distorção da realidade que as questões mais reais possíveis – aquelas com as quais não queremos lidar ou ignoramos no dia a dia – são encaradas de frente, o que garante a força pulsante do filme.
Quando você não cria expectativas ao assistir um filme e se permite receber o que a obra tem a oferecer, é simplesmente arrebatadora a experiência de ser guiada por caminhos completamente inesperados e deliciosos. “LEONOR JAMAIS MORRERÁ” é um exemplo desse tipo de obra, na qual você abre seu coração, confia e vai. Os caminhos serão múltiplos, mas uma coisa lhe garanto: serás muito feliz.