Em 2011 Sérgio de Carvalho escreveu o livro “Noites Alienígenas”, em que aborda as consequências resultantes da intervenção do Tráfico de drogas na região de Rio Branco, Capital do Estado do Acre.
O consumo de drogas é tema recorrente no universo cinematográfico, analisado desde sua viés ritualística, evoluindo para sua influência contemporânea, através do consumo recreativo ou de alívio físico, psíquico e/ou social. A pesquisa do diretor segue neste sentido.
O debate acerca da rápida desestruturação provocada pelas drogas, balizada pela constante ameaça a valores políticos, econômicos, sociais e culturais é direcionado para uma região cultural e socialmente ainda pouco retratada.
O filme inicia com um significativo discurso acerca de alienígenas, que invasivamente subvertem a população, e o alerta para a necessidade da manutenção da consciência individual e coletiva como ferramentas protetivas. Nesse sentido, o espectador também é elencado como parte da alienação forasteira que desconhece os costumes regionais de uma área importante de seu próprio país.
As personagens – salvo exceções – assumem uma função arquetípica, em prol de uma narrativa imperativa que se desenvolve através de recortes de cenas e contextualiza a destruição decorrente do tráfico de drogas, reforçando que, independente do separatismo de nossa sociedade, a problemática não se restringe a parâmetros regionais e/ou culturais.
O elenco e equipe, compostos em grande parte por acreanos, colabora para a familiaridade e legitimidade da exposição de uma Amazônia urbana raramente retratada, ficcionalmente ou em noticiários, o que garante força e assertividade acerca da mensagem que se está querendo passar. “Noites alienígenas” é o primeiro Longa metragem acreano a ser exibido em circuito nacional, o que direciona a atenção para a produção cinematográfica local e transcende às telas de cinema em seu objetivo.
Por fim, destaco a interessante estrutura oceânica e fluida do roteiro, que parte da constatação da polarização identitária para o recuo conclusivo de que, cada qual à sua forma, estamos (com o perdão da metáfora) todos no mesmo barco, sujeitos à inevitabilidade das consequências fatídicas decorrentes de escolhas morais, inerentes a todo e qualquer ser humano.