Medusa é o segundo longa metragem de Anita Rocha da Silveira, no qual ela avança na temática da violência e do feminino.
Na trama acompanhamos Mari (Mariana Oliveira), uma adolescente que faz parte de um grupo de Coral de uma igreja neo-pentecostal formado por meninas, chamado “Preciosas do Altar”. Elas performam grandes e extravagantes números musicais e atuam como influencers religiosas, fazendo vlogs com dicas de maquiagem, comportamento e estilo para a mulher perfeita, recatada e do lar.
Durante a noite, entretanto, colocam suas máscaras para perseguir e espancar garotas que consideram promíscuas, as obrigando a confessar suas imoralidades – tudo em nome de Deus, claro.
O grupo é rigidamente liderado por Michele (Lara Tremouroux), o exemplo da perfeição e moralidade seguido por todas as integrantes. Em uma das empreitadas noturnas do grupo, Mari é atingida pelo revide de uma vítima. O ferimento em seu rosto serve como o ponto de reflexão quanto à dissociação da realidade da qual está submersa, o que a leva ao início de (re)conexão com sua própria existência.
A discussão acerca do controle e repressão de corpos femininos, culpabilização religiosa do prazer, culpa cristã/psicológica sexual, introjetadas pelo machismo estrutural reverbera na rivalidade feminina.
A estética é forte guia condutora desta análise e a diretora se utiliza de elementos femininos ligados diretamente à vaidade para instigar uma potente reflexão acerca da apropriação e ocupação de corpos femininos perante à sociedade machista. No caso de Mari, a protagonista inicia sua trajetória com um cabelo padronizado, alisado, junto às “Golden girls” e conforme vai se (re)apropriando de sua identidade, seu cabelo a acompanha, assumindo forma natural, em uma catarse de liberdade que ultrapassa a libertação singular da personagem, garantindo representatividade, reafirmação e valorização da cultura e identidade das mulheres negras.
Além da estética feminina, a fotográfica também é parte essencial da narrativa, através de cores fortes, neon, centradas em tons azuis e rosas, o filme nos remete à estética dos filmes de terror dos anos setenta, marcados pela utilização expressiva de cores e sons metalizados. O neon ainda é o responsável pelo ambiente distópico futurista e caótico, com tons fantasiosos, que fortalece o discurso proposto pelo filme ao se chocar com a concretude deste último, nos causando, por fim, o horror da constatação de que vivemos em tempos em que ficção e realidade facilmente se misturam.
Por fim, o filme é um grito poderoso e urgente de liberdade das mulheres em face ao discurso de ódio e intolerância dissipados sob o manto da moralidade e religiosidade, infelizmente atual e real.
Ficha Técnica
Direção e Roteiro: Anita Rocha da Silveira Produção: Vania Catani, Mayra Faour Auad e Fernanda Thurann Produção Executiva: Tarcila Jacob Direção de Produção: Renata Amaral Elenco: Mari Oliveira, Lara Tremouroux, Joana Medeiros, Felipe Frazão, Bruna G, Carol Romano, João Oliveira, Bruna Linzmeyer, Thiago Fragoso, Inez Viana. Direção de Fotografia: João Atala Direção de Arte e Cenografia: Dina Salem Levy Figurino: Paula Stroher Caracterização: Maria Inez Moura Som direto: Evandro Lima Desenho de som: Bernardo Uzeda Mixagem: Gustavo Loureiro Trilha sonora: Anita Rocha da Silveira e Bernardo Uzeda Montagem: Marilia Moraes, edt. Empresa Produtora: Bananeira Filmes Empresas Coprodutoras: MyMama Entertainment, Telecine, Canal Brasil, Brisa Filmes, Cajamanga País: Brasil Ano: 2021 Duração: 127 min.
Medusa | Teaser Oficial
Confira o teaser de MEDUSA, de Anita Rocha da Silveira, que estreia dia 16 de março nos cinemas! O horror psicológico ambientado em um Brasil distópico apresenta uma gangue de mulheres que tenta controlar tudo ao seu redor, incluindo outras mulheres, perambulando pelas ruas e espancando aquelas que consideram pecaminosas.