“Red: Crescer é uma Fera” (2022), de Domee Shi
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9.4
Onde: Disney+

Poucos conseguem contar histórias tão cheias de mensagem e coração, utilizando personagens e pontos tão distintos quanto a Pixar. Seja em verdadeira obras-primas como Ratatouille, Wall-e, Soul, Divertidamente e Os Incríveis, até os menos inspirados como Luca, Dois Irmãos, Vida de Inseto e um ou outro Toy Story, o estúdio tem sempre uma visão clara do que quer contar e o sentimento que quer passar para o espectador.

“Red: Crescer é uma Fera” está entre esses dois grupos. Não é o mais inspirado dos filmes da Pixar, mas tem diversos elementos dignos de nota.

O principal deles é a diversidade de personagens da trama, seja Mei, filha de imigrantes chineses, suas amigas do colégio, uma canadense, uma filha de indianos e outra filha ou imigrante da Coreia. Situado em Toronto, Red nunca poderia deixar de ter essa diversidade e a escolha do Canadá serve perfeitamente para explorar esses diversos personagens sem soar artificial.

Dito isso, vale destacar o crime que a Disney cometeu ao não lançar Red nos cinemas. Depois de dois anos de preconceito e ódio contra povos asiáticos, deixar essa história presa no Disney+ só reforçar todos os protestos que a empresa vem recebendo.

Outro fator que merece destaque é a animação em si. Se compararmos com Soul por exemplo, é nítido o cuidado do trabalho da Pixar em criar seus mundos. Se em Soul víamos uma NY beirando o real, em Red vemos uma Toronto estilizada, com nuvens iguais colocadas cuidadosamente no céu. Os movimentos dos personagens, os olhos, as próprias formas se assemelham muito mais aos de produções asiáticas.

A forma como Red aborda a ansiedade do adolescente, principalmente das meninas que desde cedo já carregam o fato de “virar mulher” na primeira menstruação, por exemplo, é tratada de forma simples, lúdica, mas direto ao ponto. A facilidade com que a Pixar fala para os mais novos e mais velhos é sempre digna de aplausos. É fácil enxergar meninas com a idade de Mei se vendo no corpo da jovem, suas angústias, preocupações e desejos. Assim como também é muito fácil enxergarmos o mesmo nos adultos, que já passaram pela fase de Mei e podem estar na de Ming, mãe da protagonista. Sendo assim, acho que o filme não consegue chegar lá no panteão de grandes obras do estúdio por uma coisa que tanto reclamam do estúdio ao lado: a fórmula.

Se pegarmos Red, Luca, Dois Irmãos, Dory… todos eles tem a mesma estrutura e o mesmo formato. É como se a Pixar pegasse uma ideia incrível e enlatasse ela para vender e produzir mais facilmente. São grandes temas que acabam presos num padrão formulaico, fácil de antever e, em quase todos os casos citados, não conseguir emocionar no final.

O filme acaba tocando quem tem algo muito próximo dele, uma experiência parecida ou algo do tipo. Presa nessa fórmula, a Pixar não consegue ser universal. Se ela fez isso com um rato, um robô, um pianista e uma família de super-heróis, ela poderia ter feito com os pés nas costas com uma menina de 13 anos, a mãe e um Red Panda fofíssimo. Faltou isso para Red chegar lá no topo, mas ainda assim é uma delícia assistir Mei e as amigas correndo atrás de um show de boyband e descobrindo que elas são mais do que apenas meninas, mas ainda não precisam segurar a onda de serem adultas.