No fim de 2018 a BBC lançou mais uma minissérie baseada em obra literária de John le Carré, autor cultuado em temas de espionagem, “The Little Drummer Girl”, na esteira do sucesso de outra obra do mesmo autor adaptada pela emissora britânica, “O Gerente da Noite” (esta dirigida por Susanne Bier), e desta vez em entregue ao cineasta sul-coreano Park Chan-wook (o mesmo de “Oldboy” e “A Criada”).
A minissérie traz em seis capítulos a história de Charlie (Florence Pugh), atriz de peças pequenas de teatro e simpatizante de esquerda que é atraída pelo coordenador do Mossad, Martin (Michael Shannon) para se infiltrar na célula terrorista palestina de Salim (Amir Khoury), e capturar seu irmão mais velho, Khalil.
A série tem um arco dramático muito bem construído para sua protagonista, uma atriz aspirante que encontra na espionagem a grande oportunidade de exercício dramático da sua carreira, com extremos riscos envolvidos, e tutorada pelo misterioso agente Gadi (Alexander Skarsgaard).
Mesmo toda apoiada no gênero de filmes de espionagem clássicos, é interessante como a história sabe flutuar bem entre a abordagem que os espiões querem inserir na vida de Charlie, através da paixão desta pela interpretação na ficção, e como os valores e as histórias, reais e ficcionais, vão se misturando perigosamente conforme a minissérie evolui.
Apoiado no bom roteiro e na boa obra original de John le Carré, o diretor Park Chan-wook demonstra imenso controle dramático e de linguagem cinematográfica com a evolução e aprofundamento de Charlie naquele mundo obscuro de mentiras, conspirações e violência injustificada, porém enraizada nas sociedades israelenses e palestinas.
A divisão isonômica da imersão de Charlie no viés israelense (na primeira metade) e no palestino (na segunda metade) traz um balanço interessante que promove boas reflexões e discussões, porém a busca por um desfecho amarrado que aponte para a solução generalista e de clichê para sua protagonista prejudica um pouco o conjunto.
O uso inteligente da fotografia, com o contraste das cores e das luzes com as sombras, agregam bastante naquele universo, com um design de produção competente para nos colocar naquela época específica da história dos conflitos entre Israel e Palestina pela Europa.
O bom elenco segura bem as nuances de seus personagens, como Michael Shannon e, em especial, Florence Pugh como a protagonista, que nesse início de carreira mostra muito potencial para papéis ainda mais interessantes dos que têm vivido em sua curta carreira, o que agrega bastante nessa ótima minissérie da BBC.