The Game (Vidas em Jogo) (EUA – 1997)
7.9Pontuação geral
Votação do leitor 12 Votos
7.8

 Após chocar o mundo com o magnífico e sombrio “Seven” de 1995, o mestre dos thrillers David Fincher tinha um desafio forte e conseguiu executar bem tal tarefa ao exibir este ótimo Vidas em Jogo. Sua habilidade em manter a câmera na mão e exímia facilidade em criar roteiros fazem deste filme uma obra inesquecível. Fincher já flertava com uma característica que o ronda até hoje: a personalidade fortíssima. Você sabe grafar quando a película é ele. Às vezes, há quem se arrisque em dizer que o mesmo filme poderia de fato ser fraco nas mãos de um outro diretor.

O mestre David Fincher é assertivamente um especialista em imersões sombrias. Aqui a obra se apresenta com um tanto menos de estilo que seus projetos anteriores a 1997, mas ele não se importa com isso. Neste thriller, ele apresenta alguns esteriótipos comuns e já vistos no cinema. São exposições e dilemas que facilitam alguns entendimentos do espectador. E mesmo conseguindo ser um filme previsível, Fincher te aprisiona e te surpreende a todo momento, graças a ótima entrega de Michael Douglas ao papel principal.

A trama acompanha um breve período da vida do chato, insuportável, enfadonho e poderoso, Nicholas Van Orton (Michael Douglas). Ele é um banqueiro riquíssimo e solitário que vive em São Francisco. No dia em que comemoraria provavelmente de maneira esquecível seu 48o aniversário, entra em cena seu irmão Conrad (Sean Penn) que lhe presenteia com um convite – um tanto diferente – de uma indústria de entretenimento que pode fazer com que sua vida mude radicalmente. Vale dizer que o tal presente intrigante de Conrad – no alto dos 48 anos de Nicholas – é dado na mesma idade em que o pai deles cometeu suicídio. A única coisa que se sabe sobre a tal empresa de entretenimento é o nome dela: “Consumer Recreation Services (Serviços de Recreação para Consumidores).

Claramente cedendo a seu interesse, Nicholas Van Orton chega até a CRS a fim de conhecer que tipo de serviço lhe seria oferecido. A partir desta ida à empresa, Van Orton começa a perceber que diversos tipos de coisas completamente bizarras ganham território perto dele. Aquele sujeito sempre superior da primeira parte da obra – na memorável e convincente atuação de Michael Douglas – vai sucumbindo de maneira aflita, com o passar do tempo, com tudo que lhe é colocado à frente. Sim, Douglas dá um show aqui. Suas camadas surgem à medida que a película anda. Fincher compõe um tanto deste personagem e junto a Douglas fazem uma bela transição. Num primeiro momento, a câmera fixa à mão surge sempre por baixo e traduz uma noção de superioridade que era inerente ao protagonista. Depois, a câmera se afasta, ganha distância e, com isso, Fincher coloca Michael Douglas surpreso como nós mesmos. Destaque também a um bom Sean Penn no pouco tempo em que está em tela.

A fotografia de Harris Savides mistura a escuridão de São Francisco a nuances amareladas que pontuam precisamente o nível de desespero do personagem de Michael Douglas ao brincar de algo que já podemos chamar de “Jogo da diversão”. Savides e David Fincher não recorrem ao jogo de estúdio para filmar a ação noturna da cidade californiana. Isso dá uma precisa noção de como se desenrola essa trama nervosa.

Mesmo com uma premissa interessante, toda bem desenvolvida e apresentada em seu primeiro ato, o desfecho é um tanto exagerado e não tão verossímil. É de fato previsível. Porém – caro Fincher – isso não incomoda. Nem cansa. A imersão na sagacidade do quadro a quadro facilita a nossa entrega ao roteiro. Um baita filme para nós comuns. Bem longe dos padrões da obra-prima “Seven” de outrora. É clarividente que aqui ele nem quis chegar perto daquilo tudo feito em 1995. Talvez para David Fincher, este “The game” seja apenas um filme bom.

Onde ver: Looke e Amazon Prime Video