Wry "Noites Infinitas"
7.8Pontuação geral
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9.0

Estamos presenciando tempos áridos e sombrios, marcados por uma pandemia e desgoverno, o medo, ansiedade, incertezas e vidas perdidas… uma canoa furada que navega diante de ondas de extremismo e conservadorismo. É nesse cenário caótico, de caos que surgiu a inspiração e motivação para o grupo sorocabano Wry, criar e nos brindar com um dos melhores álbuns desse fatídico ano de 2020.

Noites Infinitas é o primeiro álbum de estúdio da banda depois de longos onze anos de hiato. São dez canções muito bem construídas e arranjadas que ecoam melodias de esperança. Um grito de contestação. O som do Wry sempre foi autentico e honesto a suas raízes e influências vindas de bandas como My Bloody Valentaine e Sonic Youth. As canções de dividem entre o português e o inglês e armam um campo lírico e interrogativo sobre o atual cenário político ao mesmo tempo que disserta sobre temas de existencialismo. Uma obra precisa, comovente e audaciosa. E quem foi que disse que o Rock Nacional morreu? Uma das maiores bobagens já ditas. Certamente essas pessoas não ouviram Noites Infinitas do Wry e outras bandas que lançaram discos incríveis esse ano.

O disco contextualiza muito bem o panorama vivido por muitos brasileiros nesse infinito ano de 2020. “Travel” canção introdutória já chega impondo os questionamentos e debates propostos pela obra.  “Eu não quero desacelerar/Milhas e milhas/Não significa nada”. Referências a Sonic Youth podem ser perceptíveis entre um acorde e outro. Os primeiros instantes dessa canção me remeteram a uma banda que gosto muito o BRMC (Black Rebel Motorcycle Club). A mesma é seguida por uma ótima canção “Tumulto, Barulho e Confusão”, é daquelas músicas melódicas com bons e grudentos riffs de guitarras e letra certeira que fazem você refletir na vida. E o legal do disco é esse contraste entre o inglês e português. Algo que agradou com certeza ambos os públicos e fãs da banda.

“Morreu a Esperança” é a voz lírica de inúmeros sentimentos vivenciados por muitos brasileiros de 2018 para cá. Mesmo com sua melodia vibrante e enérgica a música entrega os conflitos internos e contestador, evidenciado pelo forte refrão que vai ficar por muito tempo rodando em sua mente. “Estou no lugar errado/Não vejo a saída/Ninguém tem mais razão/Morreu a esperança. ”

O fato de álbum ter sido gravado em estúdio próprio sem aquela famosa pressão pode ter sido o elemento chave para o processo criativo, atraente e cativante do disco. Um conjunto de ideias e experiências de vidas acumuladas e vividas durante esses onze anos pelos integrantes: Mario Bross (voz, guitarra e sintetizadores), Luciano Marcello (guitarra e voz), Ítalo Ribeiro (bateria e voz) e William Leonotti (baixo e voz).  A produção ficou por conta do vocalista Mario Bross.

Noites Infinitas é um grito de sufoco em meio ao caos de um mundo dividido entre dores e desespero. Uma luz na escuridão, mostrando raios de luz que desperta a esperança dentro de cada um de nós. Ouça “Tumulto, Barulho e Confusão”, “Morreu a Esperança”, “I Fell Invisible” e “Absoluta Incerteza”.

Nota 7,8.