7 Prisioneiros” (2021), de Alexandre Moratto
8Pontuação geral
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8.7

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Um dos mais promissores atores brasileiros da atualidade, Christian Malheiros, garante um show nesta obra, que é curta, mas é o suficiente para aterrorizar o público e trazer à cena algo que nunca foi erradicado de fato no Brasil: a escravidão. Ela apenas se modernizou e se camuflou. O tráfico de seres humanos é real e velado. O diretor Alexandre Moratto toca em temas sensíveis e tinha tudo pra encaminhar a obra a um final previsível e batido, mas não, aqui ele consegue nos guiar a um realismo sistêmico e pior do que imaginávamos. A forma crua de adentrar tal ciclo faz o filme ser duro e impactante. Produção de Fernando Meirelles (Cidade de Deus) e Ramim Bahrani (Tigre Branco).

É clara a intenção de Moratto de mostrar ao público algo que pode estar escondido na esquina de nossa casa, nos apontando alguma solução prática e imediata. Os 7 personagens da película são “reais”, tentar fugir ou tentar fingir para seguir vivo é o que lhes resta. Por ser muito organizado, nós não enxergamos tal violência social. É algo como uma organização criminosa liderada por vezes por grandes empresas, corporações, políticos, como mostra a obra. Somos engolidos pelo problema, fato que fica claro, mesmo com uma facilitação narrativa, quando os técnicos do Ministério Público do Trabalho são facilmente enganados pelos patrões e não seguem com a investigação. Esta cena é tensa.

A fim de prover melhores condições para sua humilde família, o menino Mateus aceita um trabalho na cidade de São Paulo em condições um tanto duvidosas. O serviço é num grande ferro-velho. O emprego é comandado pelo temível Luca (um ótimo Rodrigo Santoro). Ali estaremos imersos num submundo de tráfico humano pulsante, vivo e que barateia serviços e sustenta grandes centros. E mais: tal labuta que nunca para (nem para um simples banho) pode se localizar na esquina de nosso lar. Assertividade fria de Alexandre Moratto.

O desconforto social de “7 Prisioneiros” nos coloca querendo saber mais sobre o problema e talvez provoque em seu público algum tipo de justiça social: o que poderíamos fazer? Qual seria nosso papel em relação a produto de Moratto na sociedade? O tema sempre vai ser sedutor. O que se infere ao final, tristemente, é que nossa conivência leva ao destino que Mateus abraça ali, e não adianta questionar o que cada um dos 7 poderia ou faria para escapar, quando nós não o fazemos.