Após 25 anos de percalços, enfim foi lançado o novo filme do britânico Terry Gilliam, “O Homem que matou Dom Quixote”. No filme, Toby (Adam Driver), um cineasta desiludido, é puxado para lembranças por uma cópia pirata de um filme universitário seu sobre Dom Quixote.
Ao relembrar as filmagens na época deste filme, ele se estimula a rever o vendedor de sapatos espanhol chamado Javier (Jonathan Pryce) que encarnou o célebre protagonista da literatura de Cervantes, e a jovem Angelica (Joana Ribeiro), que estimulou a buscar o sonho de se tornar atriz.
Porém, Javier ainda vive incorporado pelo personagem de Dom Quixote, e Angelica fracassou na sua busca pela fama, e Toby, confundido por Javier como seu escudeiro Sancho Pança, flerta da realidade pro fantástico ao longo da caminhada com Javier/Dom Quixote.
Terry Gilliam referencia seus problemas de produção dentro da própria narrativa
Gilliam constrói uma fábula em cima do material literário sobre Dom Quixote, enxerta situações vividas em seus próprios percalços enquanto cineasta da sua narrativa, ousando construir uma aura fantasiosa que lembra remotamente “Oito e Meio” (1963) de Fellini, mas a pretensão se esvai rápido devido ao pouco carisma de Adam Driver para a dura missão, e não funciona bem.
Por outro lado, Jonathan Pryce empresta muita credibilidade ao seu Dom Quixote com a oratória clássica do teatro para o ambiente de cinema clássico e fantasioso que Gilliam cria associado ao trabalho de seu diretor de fotografia Nicola Pecorini, que brinca muito bem com as lentes, algumas feitas manualmente por Vittorio Storaro à época das filmagens de “Apocalypse Now” (1979).
Porém a produção como um todo se mostra confusa e irregular, e não faz jus aos esforços de Gilliam de trazer às telas o que lemos e relemos sobre as desventuras de Dom Quixote que, mesmo tendo algumas cenas ótimas (como as diversas cenas referenciais à batalha do personagem espanhol com os gigantes/moinhos), no fundo resume Dom Quixote a um material que enlouquece seus apaixonados fãs que buscam adaptá-lo para o cinema.