O mais novo e aguardado filme de Martin Scorsese, “O Irlandês”, enfim chegou ao Brasil, em curta exibição nos cinemas para depois entrar no catálogo da Netflix no fim do mês. Reunindo novamente atores veteranos como Robert De Niro, Joe Pesci e Harvey Keitel, e pela primeira vez dirigindo Al Pacino, Scorsese entrega mais um filme envolvendo o submundo da máfia após vários anos.
Aqui é contada a história do irlandês Frank Sheeran (Robert De Niro), um veterano de guerra que relembra sua trajetória no passado como matador ligado ao crime organizado por lealdade à família Bufalino, representada pelo chefe Russell (Joe Pesci), e como guarda-costas do sindicalista Jimmy Hoffa (Al Pacino), e os reflexos dessa trajetória para si e sua família.
Baseado no livro de Charles Brandt, o roteiro de Steven Zaillian perpassa detalhadamente cada fase de seu protagonista pelo mundo da máfia, num paralelo expositivo e interessante com a história política americana, e apesar de sua longa extensão (mais de três horas de filme) a montagem da eterna parceira de Scorsese, Thelma Schoonmaker, deixa a narrativa com um ritmo ágil e constante pelo menos em 2/3 do filme.
Tecnicamente impecável desde a fotografia até os difíceis efeitos especiais de rejuvenescimento dos atores veteranos, a linguagem cinematográfica de Scorsese é perceptível para quem acompanha toda a sua filmografia, principalmente as histórias que retratam o mundo da máfia, mas aqui a jornada de Sheeran possui ares de tragédia shakespeariana que trazem comoção principalmente no último e derradeiro ato do filme.
Robert De Niro volta a brilhar no papel do contido protagonista, que navega com a maré que o empurra pro crime organizado na associação de seu antigo papel de soldado de guerra com o papel de soldado da Máfia, e em olhares, gestos e poucas falas nos traz o seu grande talento que tem sido pouco visto nos seus últimos papéis no cinema.
Já Joe Pesci, sumido dos filmes há décadas, aqui faz um personagem que também foge ao estereótipo que lhe fez fama como o chefão Russell Bufalino, um personagem de mensagens sutis e conciliação que impõe sua autoridade sem grandes trejeitos. E também Al Pacino, este mais confortável no personagem expansivo, carismático e explosivo do simbólico Jimmy Hoffa, também entregando uma interpretação que não víamos dele há tempos.
Scorsese no conjunto retorna com muita força ao seu mundo preferido, num formato mais biográfico e épico, com uma narrativa reflexiva sobre a jornada de um personagem questionável mas que carrega sentimentos de nostalgia e despedidas, que é impossível não associar aos atores envolvidos e ao próprio Scorsese, sendo um dos grande filmes deste ótimo 2019.