Wagner Moura em sua estreia na direção nos propõe uma análise do poder da ideologia através da relação do líder revolucionário Carlos Marighella com seu filho Carlinhos, que amadurece longe do pai na Bahia enquanto o processo de militância armada em resistência à ditadura militar ocorre no Sudeste.
Acompanhamos de perto, ombro a ombro, as ações e bastidores desses militantes liderados por Marighella, além da exposição do que significava a ditadura em diversas situações que envolvem esse caça de gato e rato entre os militantes e os agentes de Estado da época.
Moura tem lado na história, e isso agrega às escolhas de encenação adotadas, como câmera na mão, enquadramentos muito próximos das ações e reações, mas sua inexperiência na direção aparece nos encaixes de referências óbvias demais em cenas importantes, como as de Carlinhos no mar, ou na caracterização do líder da opressão interpretado por um Bruno Gagliasso travado entre referências tanto de um Capitão Nascimento (talvez um expurgo do cineasta sobre o que construiu com seu papel em “Tropa de Elite”) quanto dos maneirismos que lembram um pouco Gary Oldman em “O Profissional”.
No fim fica o retrato de um filme no equilíbrio esquemático de roteiro eternizado por Syd Field, com perfis de personagens clichês de todo filme biográfico de resistência armada, onde a linha mestra é o valor da ideologia através da relação entre pai e filho, resumida pelo afastamento real de ambos na vida real, mas pouco potencializados cinematograficamente ao longo do filme, abafadas pelas fortes cenas de ação e repressão, que talvez fossem o foco mais potente possível num filme sobre Marighella lançado no Brasil de hoje, a necessidade de resistir organizadamente frente à repressão.